Saúde da criança em risco: o que evitar e moderar na alimentação

Quando pensamos em “comida de criança” ou “comida que lembra a infância” logo associamos a biscoito, salgadinho, jujuba, e outros alimentos que estão em “pacotinhos” e que sempre fizeram parte da rotina infantil. Mas, mesmo em anos atrás, quando o gasto de energia nas crianças era muito maior do que atualmente, observamos os efeitos ao ver quantos desses adultos, agora, estão lutando contra a balança, “curando” a ansiedade nos alimentos, e com hipertensão, colesterol alterado e outras consequências.

Embora ainda tenha quem não leve isso muito a sério, ou diga “É frescura. Eu comia isso e hoje estou bem”, já está comprovado em dados científicos e nos consultórios médicos, que o contato precoce com estes alimentos, além de aumentar a chance de desenvolvimento de algumas doenças, também aumenta a seletividade alimentar de crianças que recusam frutas, vegetais, alimentos saudáveis e importantes para o crescimento e desenvolvimento.

 

 

 

Construção alimentar

A nutricionista materno infantil Camila Rheinschmitt destaca a importância da construção de hábitos saudáveis desde cedo, como parte da rotina familiar. Conforme ela explica, uma criança que não come doces no dia a dia não é uma criança “coitadinha” como alguns pais pensam, ao querer sobrepor seu gosto e paladar para o da criança. “Deveríamos ter pena é de uma criança que, tão nova, precisa se preocupar com exames alterados, fadiga e consumo de medicamentos”, orienta. De acordo com a nutricionista, quanto maior a variedade de alimentos estimulados desde cedo, melhor a formação do paladar da criança.

Ela explica que uma criança saudável não é aquela que não come nenhum tipo de açúcar ou industrializado, que nunca come um fast food porque os pais não deixam, mas que sabe fazer boas escolhas com a ajuda dos pais, e não tem essa interferência como base da sua alimentação. “É um hábito que não apenas serve para a qualidade de vida na infância, mas que a criança leva para a vida adulta, adotando um estilo de vida mais saudável”, reforça a nutricionista.

 

Crianças com doença de “velho”

De acordo com a nutricionista, cada dia é maior o número de crianças com doenças de pessoas mais velhas, como:

• Alergias

• Sobrepeso e obesidade

• Colesterol alto

• Triglicerídeos e pré-diabetes

De acordo com ela, essas doenças em crianças é um reflexo dos hábitos alimentares de alto consumo de açúcares e gorduras, baixo consumo de vitaminas e minerais, associados a um baixo nível de atividade física. “Crianças que passam muito tempo na televisão, celular, computador ou videogame, estão se tornando mais sedentárias. São crianças que nem conseguem subir escadas sem ficar cansadas, ou brincar de pega-pega com os amigos. E, em alguns casos, envolve até a necessidade de medicamentos, e injeções de insulina”, revela.

 

Consumo moderado e equilibrado

O ideal, é que a alimentação da criança tenha o máximo possível de alimentos in natura, ou minimamente processados. Veja as orientações da nutricionista

Aumentar o consumo de frutas, verduras, raízes, feijões, cereais, proteínas, castanhas, lácteos, entre outros.

Em casos de industrializados, buscar sempre itens com menor lista de ingredientes/produtos menos artificiais.

É preciso muito cuidado com embutidos – as crianças gostam muito de salsicha e calabresa, mas os embutidos, possuem maior teor cancerígeno, além de alto teor de gorduras saturadas. Portanto, além de salsicha e calabresa, evitar presunto, mortadela, peito de peru e salame, dentro outros embutidos.

Moderar o consumo de produtos em “pacotinhos e caixinhas”. A maior parte possui altas calorias e são à base de açúcares e farinhas: biscoitinhos, salgadinhos e bebidas artificiais.

A nutricionista reforça que não existe alimento proibido, mas a frequência e a quantidade do consumo vão impactar na saúde.  “É muito importante que a família dê o exemplo dentro de casa. Ofertar esses alimentos sem moderação é trocar por alimentos que estariam trazendo muito mais nutrientes importantes para a criança”.

 

 

Outras dicas e orientações importantes para a alimentação infantil

Alimentos que podem causar alergia alimentar: leite de vaca, ovo, trigo, milho, amendoim, soja, e frutos do mar. Estima-se que 6% das crianças de até 3 anos apresentam reações do sistema imunológico a alguns alimentos Algumas reações ficam restritas somente à infância, e acabam sumindo ao longo do tempo. Mas justamente esses alimentos de maior potencial alergênico, quando ofertados entre os 6 aos 9 meses de vida, durante a introdução alimentar, apresentam menor risco de desenvolver alergias. Isso acontece porque esse período é chamado de janela imunológica: o momento onde a produção de anticorpos está acontecendo. “Não quer dizer que o bebê que não consome até os 9 meses vai ter alergia no futuro, e também não quer dizer que consumir nesse período garante que não terá alergias. Mas reduz a probabilidade”, esclarece a nutricionista.

Nada de mel antes dos 2 anos. Muitos pais não sabem, mas o consumo do mel é perigoso devido ao risco de infecção, e não deve ser consumido antes dos 2 anos de vida, por ser um alimento com potencial adoçante.

Alimentos que podem causar engasgos e sufocamento: pipoca, azeitonas com caroço, uva, tomate cereja, ovo de codorna. “Ao ofertar esses alimentos, sempre cortar no sentido vertical, em tiras. Assim evita o “formato de garganta”, que apresenta maior risco de engasgo se for engolido inteiro”, orienta a nutricionista.

Nada de balas até os 2 anos:  podem causar engasgos sérios, sufocamentos, obesidade e cáries dentárias. Além disso, não apresenta nenhum valor nutricional. Depois dos 2 ano de idade, permitir o acesso com moderação.

Evitar peixes com espinhas até os 4 anos:  por mais cuidado que os pais tenham ao tirar as espinhas antes de colocar no prato da criança, sempre acaba sobrando algumas partes, podendo levar ao engasgo e até ao sufocamento infantil. Evite, até os quatro anos de idade, e sempre desfie bem antes de oferecer para garantir que não tem espinhas, ou opte por peixes sem espinha.

Nunca dê macarrão instantâneo. Tem excesso de sódio em sua composição, o que pode provocar alterações no metabolismo infantil. “O problema maior está especialmente no “tempero”, que tem uma alta quantidade de sódio, até mesmo para adultos. Mas o próprio macarrão é uma fritura, devendo ser evitado”, orienta a nutricionista.

Sucos industrializados. Os sucos em pó, o néctar e o de garrafa contêm grandes quantidades de açúcares e aditivos, como corantes e adoçantes. O consumo aumenta o risco de obesidade e alergias alimentares.

Biscoitos recheadas e bolos prontos recheados. Por mais que as crianças adorem, esses alimentos são ricos em gorduras saturadas, açúcares e sódio, sem nenhum valor nutricional. Tem que evitar até o os 2 anos de vida qualquer alimento com açúcar na composição, incluindo os biscoitos não recheados como biscoito maisena, biscoito maria, cream cracker. Após os 2 anos podem ser consumidos, mas não devem fazer parte da rotina alimentar.

 

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