Como a neuroarquitetura contribui para o bem-estar físico e mental
Neuroarquitetura é a forma de aplicar a neurociência aos espaços construídos com o objetivo de deixar o ambiente estimulante para o bem-estar, contribuindo para a saúde física e mental. Pode ser aplicada em qualquer ambiente.
Embora o termo neuroarquitetura só tenha sido criado em 2003, pela ANFA (Academy of Neuroscience for Architecture), o conceito de ciência e arquitetura já caminham juntos há um longo tempo.
Na verdade, uma das primeiras pessoas a observar que os espaços influenciavam nas emoções foi o médico americano Jonas Salk, criador da vacina da poliomielite. Na década de 1950 ele viveu uma experiência pessoal ao perceber que ficava mais criativo e inspirado ao visitar determinados lugares e construções. Em 1962 resolveu ampliar essa experiência e criou uma escola para pesquisa nas áreas de biologia, genética e neurociência e pediu ao arquiteto que projetasse o prédio aplicando conceitos de arte e ciência, onde a funcionalidade e a estética caminhassem lado a lado, inspirando os cientistas a fazerem pesquisa, assim como os artistas fazem arte.
Nos tempos atuais, os conceitos da neurociência abriram um vasto campo para a arquitetura e o design, com uma nova forma de pensar os projetos, que passam a considerar de que forma os ambientes impactam, consciente ou inconscientemente, no indivíduo.
Por tratar-se de uma modalidade de projeto focada nos usuários, a neuroarquitetura pode ser aplicada em qualquer tipo de ambiente, seja residencial, hospitalar, clínica médica, ambientes externos, internos, lojas, restaurantes, corporações. Exemplos deste tipo de projeto: a sede da Google, em SP; o hospital NG Teng Fong, em Cingapura; o restaurante Palo Santo, em Cascavel, no Paraná; o Centro de Excelência do Cerrado no Jardim Botânico de Brasília; o espaço Spa DECA na Casa Cor Bahia, dentre muitos outros.
“Compreender como os ambientes influenciam o sistema nervoso é salutar na busca de projetos mais assertivos”, esclarece Andréa Rêgo, fisioterapeuta e designer de interiores, especialista em neuroarquitetura e membro da ANFA.
De que forma estimula a saúde física e mental?
Estudos comprovam que existem variáveis ambientais que influenciam na saúde física, mental e social das pessoas, sejam elas crianças, adultos ou idosos. “A neuroarquitetura nutre-se do despertar de gatilhos mentais vinculados a sensações, emoções e comportamento na busca por resultados”, explica Andréa.
A proposta é que os projetos alinhem as necessidades dos usuários com o objetivo de promover mais experiências positivas e melhorar a qualidade de vida. Assim, uma iluminação ambiental correta, por exemplo, é capaz de melhorar qualidade de sono e diminuir a ansiedade, impactando positivamente na qualidade de vida da pessoa.
Alguns exemplos de casos coletados em pesquisas científicas:
• Inalação de óleo essencial de bergamota pode melhorar sentimentos positivos na sala de espera de um centro de tratamento de saúde mental
• Ambiente com iluminação aconchegante se mostra mais efetivo em diminuir a ansiedade do que um ambiente neutro
Por outro lado, sem certos cuidados o ambiente também pode contribuir para impactar negativamente. Uma iluminação inadequada, por exemplo, tende a aumentar a percepção de dor. “Ambientes mal projetados podem, sim, contribuir de forma negativa, desde problemas mais simples, a casos mais graves, em especial com crianças”, alerta a especialista.
Elementos fundamentais da neuroarquitetura
De forma geral, os elementos da natureza são fundamentais nos projetos. A Biofilia (amor à vida e aos seres vivos) é uma das variáveis ambientais da neuroarquitetura e não se limita apenas a inserir plantas nos ambientes. "Pessoas que se conectam com a natureza têm mais qualidade de vida, saúde e bem-estar. Sendo assim, o design biofílico tem se mostrado uma forma inovadora de levar elementos da natureza para os espaços construídos”, reforça a especialista.
Outras variáveis são cores, sons, aromas, formas, iluminação e personalização. “No caso da personalização, nada mais é do que escolher cada variável de forma individualizada para alinhar as necessidades dos usuários, tornando os ambientes não só estéticos e funcionais, como verdadeiros locais de promoção de saúde”, esclarece Andréa.
Benefícios
Dentre os vários benefícios da neuroarquitetura, se destacam:
• Melhora na qualidade do sono e do humor
• Melhora da pressão arterial e frequência cardíaca
• Reduz os níveis de estresse e ansiedade
• Aumenta a produtividade
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