Conheça os benefícios do surf para a saúde física e mental
Mais do que esporte, o surf é estilo de vida. Médicos que praticam o esporte destacam os benefícios
Depois da medalha de ouro conquistado pelo brasileiro Ítalo Ferreira na Olímpiada de Tóquio, o surf ganhou ainda mais visibilidade, mas esse esporte é um velho e querido conhecido de muitos brasileiros.
Embora seja considerado radical, o surf é um dos esportes mais praticados no país e atrai quem busca liberdade e aventura, aliado a um estilo de vida saudável, contato com a natureza e momentos prazerosos e desafiadores. Os praticantes do esporte garantem que o surf proporciona muitos benefícios para a saúde física e mental, com bem-estar e qualidade vida. E entre os praticantes assíduos, existem muitos profissionais com dia a dia bem puxado, como os médicos.
Poucos sabem, mas a relação entre medicina e surf é antiga. Um dos primeiros relatos sobre alguém descendo uma onde foi de um médico inglês em 1777, tripulante de um navio em expedição pelo Pacífico. No Brasil, foi um médico, o paulista Marcelo Baboghluian, especialista em medicina esportiva e praticante de surf desde a década de 1970, que, há alguns anos, criou o Surf Injury Data (SID), uma plataforma especialmente dedicada à medicina do surf. E muitos médicos, cada vez mais, aderem ao esporte.
O urologista e cirurgião Breno Dauster é um deles, mas já pratica o esporte desde menino, em uma época que o surf não era tão aclamado, e até marginalizado. Hoje, ele vê cada vez mais colegas de profissão começando a surfar depois dos 35 anos, e adorando. “Muitos médicos podem organizar seus horários de trabalho, e assim conseguem tempo para o surf, esporte que combina exercício físico e higiene mental, tão necessária em nossa profissão”.
O urologista Breno Dauster surfa nos finais de semana / Crédito: Adrian Berenguer
Devido a rotina puxada, atualmente Dr. Breno lamenta não surfar tanto quanto gostaria, e só consegue pegar onda nos finais de semana, em Itacimirim, onde encontra os amigos. Quando pode, vai para Praia do Forte, que considera “a melhor onda, por ser mais forte e cavada”. Em virtude dos compromissos profissionais, e pelo momento da pandemia, ainda não foi possível conhecer praias mais distantes, mas quer muito fazer isso. “O que todo surfista deseja é uma onda mais potente e longa, o que estimula o desejo de viajar para surfar. Eu também busco a onda perfeita, seja aqui por perto, em Itacaré, ou mais distante, como El Salvador. Eu torço muito pelo controle efetivo da pandemia para poder viajar e fazer isso”.
Ele explica que o surf é um esporte competitivo, seja por melhores ondas, manobras ou posicionamento no pico. Quem usa pranchas maiores consegue maior deslocamento e velocidade para entrar nas ondas. Sua preferência é o surf com pranchinha, mas gosta de fazer manobras. Tem funboard e SUP, que é indicado para ter melhor aproveitamento das ondas e permite uma visão diferente do ambiente, por remar de pé. “Hoje em dia, se o mar está pequeno, tenho usado mais o SUP. Dá até para ver as tartarugas em volta da gente, e observar o horizonte e a praia”.
Saúde para o corpo e a mente
O médico anestesiologista Manoel Medeiros, outro apaixonado pelo esporte, e praticante ativo, costuma definir o surf como “um pacote sem fim de benefícios à saúde do corpo e da mente”, e listar todos daria para encher uma página inteira da revista. Dentre os muitos benefícios, o médico destaca que o esporte demanda um alto nível de consciência corporal e equilíbrio em movimento; domínio de espaço em condições dinâmicas; preparo físico e resiliência para sustentar demandas de explosão muscular; atividade contínua de toda a musculatura do corpo; além de antecipação de problemas e capacidade de gerir crises (ondas grandes, períodos de apneia submersa, eventual perda da prancha, correntezas e situações de atrito entre surfistas). E sem falar na capacidade de interagir socialmente de forma amistosa e cordial, “e isso é imprescindível nesta época em que o surf atingiu um alto grau de popularidade. Existe toda uma regra de etiqueta no mar e o desrespeito sempre causa problemas”, revela o médico.
Ele surfa há 12 anos, cinco vezes por semana, em sessões que podem durar até cinco horas contínuas. Em Salvador, costuma frequentar todas as praias boas para o esporte, do Farol da Barra à Aleluia, e também no Litoral Norte, Itacaré, Barra Grande, Ilhéus, Costa do Dendê e Costa do Cacau. E já surfou em praias incríveis no Rio Grande do Norte e Alagoas, e em outros países, como Portugal, Peru, Costa Rica e Açores. “Sou um soul surfer!”, revela.
O médico Manoel Medeiros é um praticante ativo do surf / Crédito: Luciano Cruz
Os cuidados
Muitos não se arriscam com o surf por considerar o esporte perigoso, e Dr. Manoel explica que o perigo do surf é o mesmo de outros esportes como esqui, canoagem, skate, mountain bike, dentre outros de atividade de interação intensa com elementos naturais e uso de equipamento. “No surf, por exemplo, a permanência dentro do mar em condições de tempestade com relâmpagos, expõe ao risco de eletrocussão, e o choque com pedras ou atropelamento por outros surfistas podem causar traumas, fraturas e cortes”, alerta.
Por isso, para surfar é necessário um mínimo de entendimento de condições climáticas, marés, ventos, correntezas e ondulações fortes (chamadas swell). É preciso ficar atento também com praias poluídas e peixes e águas-vivas venenosas. A dica do médico, para surfar em condições específicas, é fazer um bom autodiagnostico de nível de habilidade e limitações físicas para não transformar a diversão em tensão. “Tomando essas precauções, o maior de todos os perigos é se apaixonar perdidamente pelo esporte e ficar viciado”, confessa.
“Um bom dia de surf cura tudo”
Dr. Breno declara que na maior parte dos dias o surf não envolve tensão nem medo, mas momentos de grande relaxamento pelo contato com o ambiente aberto e amplo, e com a fluidez do mar, que convida à reflexão. “No mar nos desconectamos de problemas. Podemos esvaziar a mente, como em meditação. Nossa atenção fica voltada para o ambiente e focado nos movimentos necessários para realizar as manobras com precisão. Costumamos dizer que um bom dia de surfe cura tudo”.
Dr. Manoel garante que, com o tempo, surfar vai mudando em nós a forma de encarar os desafios, os problemas, os medos e as emoções para lidar com o dia a dia. “Quem surfa vai se tornando um ambientalista, mesmo que involuntariamente, ao sentir e viver um novo estado sensorial com a água, a luz, o sol, as fases da lua e as marés. Esquecemos os problemas, e ganhamos qualidade de vida ao vermos ir embora a ansiedade, a insônia, o mau humor, o excesso de peso. E muda até no nosso hábito à mesa, o falar, o vestir, e o trato com as outras pessoas. Certamente a vida começa a ganhar um viés contemplativo intenso, com muito bem-estar físico e mental”, declara Dr. Manoel.