Crianças podem dar sinais de depressão e outros transtornos: é preciso ficar atento para um diagnóstico precoce

A depressão ocorre em todas as fases da vida, inclusive na infância. E, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a depressão na infância e adolescência tem sido alvo de estudos internacionais devido ao aumento de sua prevalência nos últimos anos.

Cerca de 10 a 20% das crianças e adolescentes apresentam transtornos associados a sofrimento, prejuízos no relacionamento familiar, no aprendizado e na interação com outros da sua idade. E tudo isso interfere negativamente sobre seu desenvolvimento emocional, social e escolar.

Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (Opas), é na adolescência que surgem sinais de transtornos de comportamento que, não tratados, afetam a saúde e a qualidade de vida e, com frequência, estão presentes em grande parte de adultos com transtornos mentais.

 

Diagnóstico: quanto mais precoce, melhor

De acordo com os especialistas, os transtornos de humor são frequentes na infância e na adolescência, mas podem estar associados a prejuízos em longo prazo, caso sejam negligenciados, não identificados ou não tratados adequadamente, afetando no desenvolvimento e nas habilidades cognitivas, sociais e emocionais.

Por isso, os especialistas orientam que é importante buscar um diagnóstico precoce, especialmente para crianças e adolescentes inseridos em ambientes familiares e sociais de risco; com doenças crônicas; ou com baixa resposta ao tratamento de outra condição clinica preexistente. 

A pediatra Sandra Plessim, especialista em medicina do adolescente e terapia analítica, alerta que pais e cuidadores precisam ficar atentos aos sinais que podem levantar suspeita. “Quanto mais cedo houver uma intervenção, melhor o prognostico. Vale lembrar que indivíduos com transtornos mentais estão mais propensos a se envolverem em acidentes, homicídios e suicídios”.

 

Os sintomas

• Mudança de comportamento

• Isolamento social

• Humor deprimido na maior parte do tempo

• Baixa autoestima

• Pouco interesse nas atividades diárias

• Alterações de apetite, com perda ou ganho excessivo de peso

• Automutilação, ideação e atos suicidas

• Fadiga diária, ou perda de energia

• Ansiedade

Insônia ou sonolência excessiva

• Capacidade diminuída de concentração

• Baixo rendimento, ou evasão escolar

• Problemas com drogas

 

A pediatra esclarece que alguns desses sintomas podem indicar apenas características típicas dessa fase - quando crianças e adolescentes estão em desenvolvimento e em busca de sua individualidade. Mas, por isso mesmo, torna a detecção precoce mais difícil. “É importante investigar para não dificultar o diagnóstico e atrasar o tratamento”.

Ela alerta também que, em crianças menores, alguns sintomas podem estar relacionados a outras patologias, mas é importante procurar um diagnóstico diferenciado. Esses sintomas podem ser: irritabilidade, agressividade, ansiedade, hiperatividade, choro frequente e dificuldade de ganhar peso.

 

 

A influência do ambiente familiar

De acordo a pediatra, o desenvolvimento e o crescimento da criança, além de estarem relacionados à genética, também são influenciados pelo ambiente familiar.

A criança que tem na família um fator de proteção vai apresentar menor probabilidade de transtornos de comportamento. Ou seja, família com equilíbrio emocional e o desejo de criar filhos para que desenvolvam o máximo de suas capacidades.

Mas um ambiente em que os pais apresentam transtornos de humor, falta de maturidade, negligência e abuso, é um ambiente inadequado, e com riscos para a criança desenvolver transtornos mentais.

“A prevenção começa no planejamento da família, com uma gravidez bem acompanhada;  busca da rede de proteção para a criação de um ambiente saudável para o nascimento dos filhos; busca precoce por ajuda; e na quebra do preconceito, que muitas vezes impede a busca por ajuda”, enfatiza a pediatra.

 

Tratamento

O tratamento deve ser iniciado o mais precocemente possível para evitar prejuízos cognitivos e emocionais. Não tratar, ou dar tratamento inadequado, pode interferir de maneira permanente na vida do futuro adulto.

A psicoterapia é o sempre a primeira escolha, podendo ser necessário o uso de medicamentos deste o inicio, nos quadros mais graves. 

É indicado que a criança ou o adolescente receba tratamento com equipe multiprofissional, que envolva a família, ou cuidadores, a escola, o pediatra ou hebiatra, o psicólogo, o terapeuta, o neuropediatra e o psiquiatra da infância e adolescência.