É na adolescência que surgem sinais de transtornos mentais que, não tratados, afetam a saúde e a qualidade vida. Veja como perceber

Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (Opas), metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada. E as consequências são cada vez mais preocupantes. Além do aumento da depressão e da ansiedade, dados da Opa registram crescente ocorrência de suicídios entre jovens de 15 a 24 anos no continente americano.

Associados a esses transtornos estão comportamentos e hábitos que, ao longo da vida, se tornam fatores de risco para a saúde e o bem estar, como abuso de álcool e outras drogas, sobrepreso, obesidade e sedentarismo.

Fatores emocionais como rejeição, bullying, exclusão, falta de apoio, negligência com a qualidade de vida e ambientes sociais pouco promissores, além de fatores genéticos, contribuem para desencadear comportamentos que podem levar ao surgimento de alguns transtornos.

“Sabe-se que os transtornos mentais são multifatoriais em todas as faixas etárias e sempre ocorrem como consequência de uma complexa interação de fatores. Portanto, as estratégias de tratamento também devem abordar esses fatores. Estudos feitos em escolas públicas de Salvador confirmaram achados de pesquisas internacionais, indicando que o abuso emocional é o mais consistente fator de risco para problemas mentais na adolescência”, alerta o psiquiatra Irismar Reis, professor com atividades acadêmicas em Salvador e nas universidades do Texas (Houston) e Drexel (Filadélfia), nos EUA.

Ele alerta que é de vital importância que pais, familiares e responsáveis percebam os sinais e as mudanças de comportamento, e sua frequência e intensidade. Podem ser apenas manifestações típicas da idade, ou indicar um problema mais grave. “As crianças, principalmente, têm mais dificuldade de verbalizar e expressar suas dificuldades. É importante ficar atento e perceber as mudanças”.

 

Sintomas e sinais que precisam de atenção, caso perdurem por dias ou semanas:

• Medo, ansiedade e preocupação excessivos;

• Mudanças de humor além do habitual;

• Demonstração de irritabilidade ou raiva sem motivo aparente, ou muito intenso;

• Isolamento dos amigos e das atividades sociais;

• Falta de interesse por atividades típicas dessa fase;

• Mudanças no desempenho escolar;

• Comportamento hiperativo e/ou impulsivo acima do esperado para a idade;

• Alterações do sono;

• Pesadelos frequentes;

• Desobediência constante;

• Agressão física ou verbal muito acentuada.

 

Estatísticas indicam os transtornos mentais que mais atingem jovens e adolescentes:

• Transtornos de ansiedade - incluindo ansiedade generalizada, fobias, estresse pós-traumático, ansiedade de separação;

• Depressão;

• Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH);

• Transtornos alimentares

 

 

Mas é importante desmistificar alguns mitos. Várias interpretações em relação à saúde mental estão arraigadas em conceitos equivocados, que ainda perduram e contribuem para negligenciar a devida atenção e tratamento. O psiquiatra destaca alguns dos conceitos errôneos mais difundidos:

- “Deve-se sempre evitar o uso de medicações em crianças ou adolescentes”.  O tratamento deve sempre abranger estratégias que lidem com os diversos fatores, mas já existem inúmeros estudos, bem conduzidos metodologicamente, confirmando os benefícios que as medicações podem ter para o tratamento de diversos transtornos mentais.

- “Depressão e ansiedade são sinais de fraqueza de caráter” - Isto está longe de ser verdade. Ter esta visão impede que as pessoas busquem o cuidado médico ou psicológico necessário Esses transtornos têm origem multifatorial, que podem ser genéticos, sociais ou culturais.

- “As pessoas com problemas mentais são violentas”. Isto é mais exceção do que regra. Os números indicam que pessoas com problemas mentais têm chance maior de serem vítimas de crimes violentos.

- Lapsos de memória, como "esqueci o que ia dizer" ou "acabei de guardar e não lembro aonde", “o que vim fazer aqui mesmo?" não são indicativos de problemas mentais, inclusive em pessoas muito jovens. Essas ocorrências são comuns e atinge todas as faixas etárias. Em crianças pode ser sintoma de TDAH, mas só deve causar preocupação se impactar em seu bem estar e interferir no desempenho escolar.

- “Estou imune a transtornos mentais.” - Ninguém é forte o suficiente para estar imune a isso, pois seu surgimento não depende da vontade ou personalidade da pessoa. Na verdade, os transtornos mentais são muito mais comuns do que se imagina, inclusive em pessoas ativas, com rotina, responsabilidades e atividade profissional.