Idosos: o isolamento social pode agravar a ansiedade e a depressão
Dentre as medidas de prevenção para conter o avanço da pandemia da Covid-19 está o distanciamento social e os cuidados com os idosos por serem grupo de risco. Nesse momento, mantê-los protegidos é ter que distanciá-los, mas isso não significa deixá-los isolados a ponto de se sentirem sozinhos e abandonados. Eles são os mais vulneráveis nesse momento e deve ser preocupação de todos ampará-los e não deixar a ansiedade e a depressão causarem estragos ainda maiores.
De acordo com um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), durante essa pandemia no Brasil os casos de depressão praticamente dobraram, e os de ansiedade e estresse aumentaram em torno de 80%. “Não se deve confundir isolamento com abandono. Evitar proximidade não significa não falar e não manter contato. Pessoas próximas e familiares podem, e devem, se fazer presentes. Se não puder ser pessoalmente, que seja por telefone ou pelas redes sociais. É importante evitar o sentimento de solidão e abandono”, alerta o psiquiatra André Gordilho, especialista em psicogeriatria.
Dr. André explica que o envelhecimento pode trazer grandes desafios adaptativos, como luto, perdas afetivas, declínio de status social, e incapacidades funcionais. E esses desafios, associados ao sentimento de solidão, podem levar à alterações do humor, causando depressão e quadros de ansiedade. “Precisamos ficar atentos às necessidades dos idosos, ainda mais nesse período, em que há uma demanda real de isolamento, tornando essa população mais vulnerável".
Reduzindo o que já era reduzido
Na avaliação do geriatra Leonardo Oliva, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, regional Bahia (SBGG/BA), o isolamento social para os idosos, nesse momento, é um grande desafio, já que, de maneira geral, eles têm um ciclo social reduzido, inclusive no âmbito familiar, onde muitas vezes há pouca interação. “Reduzir o que já era reduzido pode ter uma influência negativa na saúde mental deles”.
De acordo com o geriatra, a depressão e a ansiedade, sem dúvida, prejudicam muito nessa quarentena, e para os idosos alguns fatores contribuem para isso. Além do grande volume de informação que circula na mídia e nas redes sociais, abordando a doença o tempo todo e destacando o quanto eles são grupo de risco com chances de morte, ainda tem o fato dos idosos não poderem exercer suas atividades como antes – de ir e vir - e isso aumenta o sentimento de incapacidade. “Toda essa mudança na rotina desestrutura muito, e causa descompensação clínica. E, soma-se a isso, a falta de acompanhamento médico. A maioria está há três meses sem poder marcar uma consulta, e até com medo de ir a um consultório médico. Quem pode fazer a teleconsulta, menos mau. Mas quem depende do SUS, está numa situação muito difícil. Ou seja, tudo isso prejudica muito o estado de depressão e ansiedade”, alerta Dr. Leonardo.
O que fazer
Os dois especialistas dão algumas dicas que podem ajudar a prevenir o surgimento de sintomas depressivos e ansiosos:
É importante tirar o idoso um pouco do confinamento, nem que seja para colocar no carro e dar um passeio pela orla marítima.
Quem tem histórico de transtorno e está em tratamento, é fundamental manter o acompanhamento médico e psicoterapêutico de forma regular;
Não trate o idoso como criança. Existe a tendência de tratarmos os idosos como se fossem crianças, ou nossos filhos, impondo coisas, embora, na maioria das vezes, façamos isso para o bem deles, para protegê-los. Mas, de acordo com Dr. Leonardo, não funciona assim. “Impor como se eles fossem incapazes gera problemas de relacionamento e gera estresse. Não podemos querer tomar as decisões por eles, a não ser que sejam realmente incapazes de tomarem decisões, como os portadores de síndromes demenciais, embora esses também não devam ser tratados como crianças e incapazes”.
É preciso respeitar os idosos e entender seus desejos. Perceber a intenção deles, o que está por trás daquilo que ele fala ou tenta mostrar. “Temos que procurar entende-los sob o ponto de vista deles e não do nosso”, alerta Dr. Leonardo.
Fixar uma rotina diminui a ansiedade, inclusive ajuda e evitar a compulsão alimentar e a obesidade. “Criando uma rotina a pessoa ocupa o tempo e isso pode servir também para pessoas que, mesmo fora da pandemia, tem um estilo de vida mais desorganizado”, alerta Dr. André.
Oferecer apoio. O idoso deve ser estimulado a aceitar ajuda e é importante mostrar que ele não é um incômodo ou um peso. “Oferecer apoio não é fazer tudo para o idoso. É importante que ele seja estimulado a fazer aquilo que tem condições de fazer”, explica Dr. André;
Espiritualidade - alguns estudos mostram que estar engajado a uma atividade religiosa de forma rotineira pode ajudar na prevenção de quadros depressivos e ansiosos. Mas isso não deve ser imposto, e deve ser respeitado a crença e o desejo de cada um;
Adaptar exercícios. Exercícios físicos são fundamentais para manter a saúde cardiovascular, a tonicidade e o alongamento muscular, além de ser extremamente positivo para a saúde mental. Caso haja impedimentos de sair para caminhar, por exemplo, pode adaptar os exercícios dentro de casa. No YouTube tem vários canais gratuitos com dicas nesse sentido;
Afazeres domésticos mantêm a mente ocupada – lavar louça, varrer a casa, arrumar armários e organizar o que “não tinha tempo para fazer”;
Alguns jogos são excelentes para a saúde mental, como tabuleiro, baralho, quebra-cabeça e palavras cruzadas.
Ler e assistir filmes;
Manter contato com familiares e amigos por telefone e redes sociais;
Ambiente digital. Utilizar a vastidão de possibilidades que a internet proporciona, como museus, filmes, óperas, cursos, etc. Inclusive, é um bom momento para o idoso aprender a usar a internet e se beneficiar com tantas possibilidades de distração e aprendizado;