O suicídio é uma doença que dá sinais e pode ser evitado

Não se deve encarar o suicídio como uma falha de caráter. É um problema de saúde, um sintoma da gravidade de uma doença psiquiátrica que deve ser abordado de forma ética, profissional e terapêutica

 

A OMS considera o suicídio como um grave problema de saúde pública, principalmente quando se leva em consideração que para cada suicídio cometido 20 tentativas são feitas, e esse é o principal fator de risco que precisa ser tratado: o suicídio pode ser evitado.  

Com o objetivo de chamar a atenção para esse tema, em 2003 a OMS criou o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, no dia 10 de setembro.  No Brasil, durante todo o mês, diversas ações de conscientização são realizadas na campanha chamada Setembro Amarelo, iniciada em 2015 por iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

 

O suicídio é uma doença que progride e dá sinais

Não se deve encarar o suicídio como uma falha de caráter. É um problema de saúde, um sintoma da gravidade de uma doença psiquiátrica que deve ser abordado de forma ética, profissional e terapêutica.

O psiquiatra da Holiste, Victor Pablo da Silveira, uma das maiores clínicas e referências em psiquiatria e tratamento mental do Norte e Nordeste, alerta que 90% das tentativas de suicídio estão relacionados a alguns transtornos mentais, como psicose, depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, além de abuso de bebida alcoólica e drogas.

“O suicídio é um fenômeno quase sempre evitável porque, em 90% dos casos, está associado a um adoecimento mental, que é um processo muito solitário. E há, sim, ajuda para as pessoas adoecidas, em estado de desesperança”. 

Segundo o psiquiatra, meses de adoecimento psíquico vão dar sinais, e algumas, ou várias, dessas alterações podem acontecer em um indivíduo propenso a uma tentativa de suicídio – e merecem atenção:

• Retraimento social

• Diminuição da capacidade de sentir prazer ou expressar interesse em atividades antes prazerosas

• Mudança para uma rotina mais restrita

• Dificuldade em atingir resultados, ou queda da qualidade nos estudos ou trabalho

• Expressão de discursos de ruína e derrota. Frases como “vou desaparecer”, “vou deixar vocês em paz”, “eu queria poder dormir e nunca mais acordar”, quando ditas com bastante frequência, precisam de atenção

• Mudança para um comportamento mais impaciente ou desafiante

• Dificuldade de concentração e lapsos de memória

• Negligência com a própria aparência e outros cuidados pessoais

• Abuso de bebida alcóolica e outras drogas

• Hipersônia ou insônia

• Expressiva perda ou ganho de peso

• Aumento da reatividade emocional e de comportamentos impulsivos na convivência com pais, irmãos ou cônjuges

 

O perfil do suicida – quem está em risco

A maioria das tentativas de suicídio é feita por mulheres, mas os homens buscam métodos mais letais e entre eles é maior o número de suicídios. Segundo o psiquiatra, o perfil dos suicidas são homens de 15 a 29 anos entrando num processo depressivo ou exposto a frustrações profissionais e sociais, portadores de temperamento explosivo ou introspectivo, e usuários de substâncias psicoativas.

Geralmente possuem histórico genético para o suicídio e casos de depressão na família; apresentam diagnóstico recente de doença grave e já tiveram tentativas suicidas prévias, embora os episódios possam parecer menos grave, apenas para chamar a atenção.

“Ingerir cosméticos ou cortar levemente os punhos pode parecer tentativas frustradas, mas, embora apresentem um baixo índice de letalidade, elas merecem atenção da família e dos profissionais que acompanham o paciente”.

 

 

Prevenção e controle

Conversar abertamente sobre o tema, permitindo que se possa identificar o sofrimento antes que o indivíduo chegue a executar as tentativas de suicídio é uma das principais medidas para a prevenção, mas outras atitudes são essenciais e orientadas pelos especialistas:

  • Reduzir o acesso aos meios utilizados (pesticidas, armas de fogo e certas medicações);
  • Se você acha que a pessoa está em perigo, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa;
  • Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Se ofereça para acompanha-la a um atendimento;
  • Deixe a pessoa saber que você está lá para ouvir. Ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.

 

Onde buscar ajuda

Além de clínicas particulares especializadas em saúde mental, o Sistema Único de Saúde também oferece ajuda através das CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) e das Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde), UPA 24h, SAMU 192, Pronto Socorro e Hospitais.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem conversar - sob total sigilo. Pode ser por telefone (188), chat, e-mail e Skype através do site  www.cvv.org.br.

“O sofrimento pode e deve ser aliviado. Não há nada errado em buscar ajuda. É preciso se fortalecer, ter humor, sair de algumas cirandas de rotinas sem sentido, tão comuns à vida moderna, e viver a vida de forma mais prazerosa”, orienta o psiquiatra.

 

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