Perfil da população médica no Brasil: as mulheres avançam
Elas já são a maioria dentre os profissionais médicos na faixa etária até 34 anos, e em 2030 serão a maioria no exercício da profissão
Embora os homens ainda sejam maioria entre os médicos em atividade no Brasil, a diferença em relação às mulheres vem caindo significativamente, conforme já havia revelado levantamentos da Demografia Médica, em 2020, que mostrou a maioria feminina nos grupos com idade até 34 anos. Mas nos próximos nove anos elas serão a maioria entre os médicos, e com mais de 80% na faixa etária de 22 a 45 anos, conforme estudos recentes do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), da Universidade de São Paulo (USP) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Esse estudo tem como objetivo contribuir com o planejamento de políticas públicas de recursos humanos que atendam às reais necessidades da população e do sistema de saúde.
Divulgado no último mês de julho, o estudo revelou que a maior presença feminina entre os médicos vem se delineando no país desde 2010, quando as mulheres já representavam mais de 50% do total de profissionais egressos dos cursos de medicina. A médica Lucélia Magalhães, coordenadora do curso de Medicina da Unesulbahia (rede UniFTC), não se espanta com esse resultado. Para ela, essa realidade revela uma questão quase ancestral, uma vez que as mulheres carregam em si um papel maternal, de cuidadora, então é bastante natural que elas busquem profissões na área da saúde. Em relação ao curso de Medicina, ela avalia que o que faltava era oportunidade e possibilidade. “Sempre houve um predomínio feminino na área de saúde. Um exemplo é a enfermagem, onde se vê muito pouco a presença masculina. Mas à medida que as mulheres foram rompendo obstáculos, as conquistas foram acontecendo”. Atualmente, em toda a rede UniFTC, mulheres entre 19 e 59 anos representam 67,1% dos alunos cursando Medicina, com predominância na faixa etária de 20 a 24 anos.
Essa maioria também é realidade na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Púbica, onde as mulheres representam 63% dos alunos. O coordenador do curso de Medicina, Dr. Humberto Castro Lima, revela que esse estudo confirma o que já estava sendo observando nos últimos anos. “Aqui na Bahiana, já em 2011, 61% dos alunos matriculados em Medicina foram mulheres. Esse predomínio, no Brasil e no mundo, é uma tendência que vem se desenhado há anos”.
Na Unifacs (Universidade Salvador), as mulheres também representam a maioria, com 62,51% dos alunos de Medicina matriculados, principalmente na faixa etária dos 19 aos 24 anos. Já em 2020, elas representavam mais de 50%. “Não apenas mais mulheres estarão exercendo a medicina, como também mais jovens”, destaca Adriana Mattos Viana, coordenadora do curso de Medicina da instituição.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Dr Otávio Marambaia, os números mostram o resultado da própria ascensão da população feminina, que vem se afirmando cada dia mais em todos os setores da sociedade. “A dedicação e o esforço das mulheres não podem deixar de ser anotados, pois, sem dúvida, elas têm superado os seus concorrentes masculinos, tornando-se maior número dos aprovados em concursos e vestibulares. Mérito delas!”
Mais cursos, mais médicos
O estudo identificou também que de 2010 a 2020 o número de profissionais médicos formados no país cresceu 54%, pulando de 315 mil para mais de 487 mil médicos. E deve chegar a mais de 815 mil em 2030. Para o Dr. Cesar Amorim, presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM), a maior causa desse aumento de médicos formados se deve, sem dúvida, ao grande número de faculdades que surgiram no país nos últimos anos. Atualmente, são 330 faculdades, mais do que o dobro de há 10 anos. “A medicina sempre foi uma profissão procurada, e com tanta oferta de cursos é grande o número de médicos que estão se formando. O que até ajudou bastante durante a pior fase da pandemia, que precisou de médicos com a abertura de leitos, mas esse cenário de oferta profissional pode mudar a qualquer momento”. Na opinião do presidente da ABM, o número maior de mulheres em Medicina reflete também esse cenário de maiores ofertas de cursos, além do fato da população feminina ser maior mesmo.
O presidente do Cremeb também se mostra preocupado, não apenas com a quantidade de cursos, mas com a qualidade do ensino. “A abertura indiscriminada de escolas médicas vem provocando um aumento muito grande do contingente dos que conseguem fazer o curso. Infelizmente, este aumento na oferta de cursos não é traduzido em qualidade, o que lança preocupações muito sérias sobre o preparo desses profissionais que se formam em instituições sem condições necessárias para formá-los”, conclui Dr. Otávio Marambaia.
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