Câncer de mama: qualidade de vida contra a doença
É cada vez mais comum ouvirmos relatos de mulheres jovens diagnosticadas com câncer de mama. Pesquisas isoladas corroboraram para que esse pensamento se disseminasse entre a sociedade. No entanto, de acordo com especialistas, a incidência da doença tem aumentado de forma global e mulheres entre 50 e 69 anos ainda são as mais afetadas por esses tipos de tumores.
A idade, sem dúvida, constitui um fator de risco, mas não o único. “O câncer de mama é uma doença multifatorial. Não há uma causa única. A obesidade ou sobrepeso, o sedentarismo e o tabagismo entram na grande gama de fatores de risco”, pontua Luciana Landeiro, oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB), que ainda aponta a utilização de anticoncepcionais orais e as terapias de reposição hormonal por tempo prolongado e de forma não acompanhada como itens dessa lista.
Para Marcos Nolasco, vice-presidente da região Nordeste da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), esse aumento já era esperado. Além da ampliação dos fatores de risco, o aumento do acesso aos exames de imagem leva obrigatoriamente ao crescente número de diagnósticos. “Isso aconteceu nos Estados Unidos. Até 2008 aquele país enfrentava uma curva ascendente de casos de câncer de mama. A partir do momento em que toda a população foi coberta pelos mamógrafos, os números começaram a cair. Ou seja, já não havia casos novos a serem detectados e os níveis de incidência voltaram aos patamares normais”, explica.
De todo modo, as estatísticas mostram que pacientes mais jovens tendem a apresentar doenças mais graves, com tumores que crescem mais rápido. Nesse caso, como equalizar esse dado com a indicação de mamografias anuais somente a partir dos 40 anos, como defende a SBM? “Existem escolas que defendem uma mamogr
afia de base aos 35 anos, que vai servir de referência para exames posteriores. Antes disso, a ultrassonografia é um bom exame para mamas jovens, mais densas”, indica Cristiane Mendes, presidente da Sociedade de Radiologia da Bahia (Sorba).
Se ainda existem dúvidas sobre a idade certa para iniciar alguns tipos de exames, é fato incontestável que hábitos de vida saudável – com a prática de atividades físicas e alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e verduras – são fundamentais na prevenção da doença. “É a mesma orientação que dávamos tempos atrás em relação a diminuir os riscos cardiovasculares e de diabetes. Se olharmos com cuidado percebemos que são os mesmos fatores de risco. Portanto, é cuidar da saúde como um todo”, analisa Dra. Luciana.
“Comprovadamente, atividade física e boa alimentação estão relacionados à prevenção da doença. Um trabalho recente mostra que isso reduz a incidência de câncer de mama em 29%. Por isso o mote do Outubro Rosa este ano é qualidade de vida”, adianta Dr. Nolasco, ressaltando ainda que o autoexame é outro ponto importante na prevenção, apesar de não substituir a mamografia. “O diagnóstico precoce tem um grande impacto na taxa de curabilidade”, afirma.
Diagnóstico precoce
Segundo Dra. Cristiane, os métodos de imagem evoluíram bastante. Enquanto os antigos equipamentos analógicos não possibilitavam a manipulação da imagem, hoje a mamografia digital tem recursos de magnificação, inversão e filtros na visualização para salientar determinadas lesões. “Isso permite definir se é um nódulo verdadeiro, se é uma assimetria ou se é só parênquima, um tecido fibroglandular”, esclarece.
E até os incômodos relatados por muitas mulheres durante o exame tendem a diminuir. Segundo a radiologista, os mamógrafos modernos já são capazes de realizar a leitura da densidade da mama e dispensar a radiação e o grau de compressão adequados. “Vale frisar que o estudo comparativo com pelo menos uma mamografia anterior reduz a chance de reconvocações, que geram ansiedade e estresse, e aumento da dose de radiação a que a paciente será exposta”, orienta.
Bem próxima à mamografia caminha a ultrassonografia, que enriquece os dados sinalizados pela primeira. Os transdutores de maior frequência melhoraram muito a qualidade do exame e hoje já é possível discernir melhor lesões superficiais. “O ‘combo’ mamografia e ultrassom é excelente”, defende Dra. Cristiane.
A ressonância magnética também tem ajudado muito, especialmente no diagnóstico de mamas manipuladas cirurgicamente - incluindo aquelas com próteses e implantes pós-mastectomia - e na pesquisa de recidiva da doença.
Ainda engatinhando e com algumas restrições pela alta dose de radiação utilizada, a tomossíntese também mostra-se eficiente para salientar determinados nódulos, assim como a mamografia de contraste. “É preciso um radiologista experiente em mama para indicar o exame ideal a ser realizado e em qual sequência. Assim, afasta-se a exposição da paciente a um método desnecessário, seja por radiação ou pelo estresse gerado no paciente e, além da frustração do colega que solicitou o exame”, analisa.
Tratamento e cura
Quando falamos de câncer de mama, na verdade estamos falando de várias doenças com o mesmo nome. São diversas as características do tumor que definem seu tratamento e chances de cura. Além do tamanho, observa-se o comprometimento dos gânglios (linfonodos da axila), o grau de diferenciação, os estímulos dados para que ele se desenvolva e se há superexpressão de outra proteína promovendo seu crescimento, entre outros aspectos.
“São várias características que nos dizem qual a chance da paciente se curar após a cirurgia e quando é necessária a quimioterapia e/ou radioterapia e o que chamamos de terapia endócrina, que é o bloqueio do estímulo hormonal”, enumera Dra. Luciana, citando as drogas-alvo como a terapia mais moderna no tratamento da doença “Elas bloqueiam o estímulo da proteína que promove o crescimento do tumor. Hoje temos associações dessas drogas-alvo que são mais efetivas do que quando eram utilizadas isoladamente. A oncologia vem progredindo realmente a passos largos nas últimas duas décadas e tivemos grandes avanços no tratamento do câncer de mama”, comemora.
A oncologista ainda relata que estão sendo realizados estudos com imunoterapia - uma reativação do sistema imunológico - para câncer de mama. “Já temos muito bem definido o papel da imunoterapia em câncer de pulmão, mas no de mama esse estudo ainda está em fase inicial de avaliação”, conclui.