Cannabis medicinal: remédio da planta da maconha mostra resultados promissores

A cada dia, novos estudos são apresentados sobre o uso da cannabis medicinal no tratamento de diversas doenças. A mais recente, de pesquisadores da Universidade de Nebraska (EUA), mostrou como os compostos ativos da planta podem ajudar a tratar a inflamação pulmonar causada pelo novo coronavírus. Na Bahia, a Fundação de Neurologia e Neurocirurgia da Bahia - Instituto do Cérebro estuda o tema há anos, e experimentos realizados mostram importantes componentes no controle de várias doenças, especialmente da epilepsia refratária e a doença de Parkinson.

E o uso do extrato da maconha pode ir além: no tratamento de dores crônicas, no combate da depressão, ansiedade, insônia, e até pode ajudar no tratamento do câncer. “A cannabis medicinal é o futuro. As famílias que têm pessoas com epilepsia e Parkinson, por exemplo, e usam o remédio, sabem o efeito por ele produzido. Os médicos precisam entender mais da questão. Já existe um número grande de trabalhos, embasados, e de vários cientistas em todo o mundo, sobre os efeitos positivos do medicamento extraído desta planta”, destaca o neurologista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antonio Andrade, presidente da Fundação.

Pesquisador e entusiasta do uso do medicamento, Andrade destaca que o uso do óleo da cannabis tem proporcionado grandes avanços no tratamento de muitos pacientes. Ele explica que da planta são extraídos o cannabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC), duas substâncias que ativam o chamado sistema endocanabinoide do corpo humano. Na área neurológica, há comprovações da eficiência da cannabis medicinal no tratamento de:

• Epilpesia

• Mal de Parkson

• Esclerose múltipla

• Autismo

• Alzheimer

De acordo com Andrade, são muitos os casos de evolução de tratamento com o uso da cannabis. Segundo ele, somente na Fundação de Neurologia e Neurocirurgia são mais de 250 pacientes utilizando o óleo, com resultados positivos em todos eles. Há caso de paciente que registrava 30 convulsões em um único dia, e, após cinco dias de uso, não apresentava mais crises. “O óleo da cannabis não causa qualquer efeito colateral, e também não causa dependência”, informou.

 

 

Custos

Mas há uma questão importante em meio à evolução do debate em torno da cannabis medicinal: a lei brasileira proíbe o plantio, o cultivo e a extração do óleo da maconha. Por isso, muitas famílias buscam autorizações especiais para importar o extrato dos Estados Unidos e Europa. O problema é o custo. O medicamento chega a ser importado por U$ 470, ou quase R$ 2,5 mil, um valor distante para a maioria das famílias que necessitam da droga, em geral de baixa renda.

Fundada em outubro de 2017, a Associação para pesquisa e desenvolvimento da Cannabis Medicinal no Brasil (Cannab) (www.cannab.com.br), com sede em Salvador e formada por mais de 400 pacientes de diversas patologias, busca na Justiça o direito de plantar, cultivar e extrair o óleo medicinal de CBD. Estima-se que o custo local para produção não passe de R$ 150 por unidade.

O presidente da Cannab, Leandro Stelitano, destacou a parceria com a Fundação de Neorologia, e a luta para legalizar a produção do extrato. Atualmente, apenas uma associação no Brasil, no estado da Paraíba, obteve autorização judicial para extrair o óleo. “São centenas de pessoas aguardando a possibilidade de ter a medicação com um preço justo. Estas pessoas não podem esperar. É uma questão de vida”, enfatizou.

Para o presidente da Cannab, o que dificulta a liberação é a falta de conhecimento sobre o assunto e o preconceito, em um país onde milhões de pessoas poderiam se beneficiar de um remédio em que todo o mundo está buscando a regulamentação.

Recentemente, a Associação estabeleceu uma parceria com um laboratório chileno para estudos e tratamento de pacientes com epilepsia refratária em Salvador. A pesquisa será replicada na Bahia, com 150 pacientes que receberão o medicamento gratuitamente. Outro acordo de cooperação deve ser estabelecido entre a Fundação de Neurologia e Neurocirurgia com um grupo da Califórnia (EUA).

 

Avanços no Brasil

O Brasil já promoveu alguns avanços. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a liberação da venda de produtos à base da planta nas farmácias. Mas os preços seguem elevados. Recentemente, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) determinou que a União inclua medicamentos à base de CBD e THC, registrados pela Anvisa, na lista de fármacos ofertados pelo SUS.

Mas para as associações no país a maior conquista será a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Projeto de Lei 399/2015, que dispõe sobre cultivo, produção industrial e comercialização de produtos à base de Cannabis, em tramitação no Legislativo.