Depressão e fim de ano: uma combinação perigosa

Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ‘Mal do Século XXI’, a depressão é uma doença silenciosa que já atinge 322 milhões de pessoas no mundo, sendo 11,5 milhões no Brasil, país com maior incidência da doença na América Latina. Ainda de acordo com dados da OMS, casos de depressão aumentam gradativamente, ano após ano, e até 2020 pode ser considerada a enfermidade com maior incapacitação do mundo, além de corresponder, até 2030, por 9,8% do total de anos saudáveis desperdiçados.

Segundo a psicóloga do Instituto Vita Medicina Integrativa, Fernanda Pimenta, a depressão é um transtorno mental afetivo ou psiquiátrico e é caracterizado por um estado constante de tristeza. “É como se a pessoa colocasse um filtro negativo na vida. Por exemplo: se você estuda 10 matérias na escola, em nove tira de nota 8 para cima, mas em uma tira nota 5. Automaticamente uma pessoa com depressão vai focar apenas na matéria com nota baixa e esquecer que foi bem em nove matérias”, explica.

A partir desta ideia de ‘filtro negativo’ é possível entender a famosa frase do almirante Winston Churchill, que, em 1911, escreveu em uma carta para sua esposa: “Acho que um médico pode ser útil para mim se o cachorro negro voltar. Ele parece estar distante agora, o que é um alívio. Todas as cores voltam à vida”. A partir daí, Churchill tornou o termo ‘cachorro negro’ como a mais famosa metáfora da depressão.

 

 

A psiquiatra e vice presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia (APB), Sandra Peu, explica que a depressão acontece por uma confluência de fatores e não ocorre apenas no cérebro. Além disso, a depressão também não significa apenas tristeza ou perda de interesses.

“Quem sofre de depressão pode apresentar sintomas físicos, como dores, sensações físicas desagradáveis, sensação de fadiga, perda ou aumento do apetite com consequente perda ou ganho de peso, alterações no ciclo do sono com insônia ou hipersonia. A irritabilidade fácil e a redução da tolerância às frustrações também não são incomuns”, adverte a psiquiatra.

Alguns fatores são importantes para identificar alguém com depressão, sendo eles:

• Mudanças de comportamento;

• Tristeza contínua;

• Isolamento social;

• Mudança na forma de ver o mundo;

• Pessimismo.

Perigo de fim de ano

As comemorações de final de ano, algumas vezes, podem significar grandes problemas às pessoas com depressão, chegando a agravar os casos. De acordo com Fernanda Pimenta, estes festejos não levam à enfermidade, mas podem se tornar gatilhos. Entre os motivos, podemos listar:

• Fechamento de um ciclo;

• Momento de reflexão;

• Frustração por não conseguir realizar alguns projetos durante o ano que está acabando;

• Festas natalinas, que podem trazer lembranças melancólicas de um momento feliz em família, principalmente se a pessoa perdeu os entes queridos.

Já no âmbito da psiquiatria, Dra. Sandra explica que um dos maiores problemas está relacionado á interrupção do uso dos medicamentos. “O clima festivo, a mudança de rotina por recesso ou férias, o desejo de ingerir álcool e temer interação com os fármacos leva as pessoas a abandonarem o tratamento prescrito. Esses pacientes que recaem são os que costumam buscar atendimento no início do ano com um sofrimento que poderia ser evitado a partir de uma boa conversa de esclarecimento com o psiquiatra”, alerta.

Tratamento

O tratamento para depressão não é específico e depende de cada caso. Algumas pessoas podem precisar apenas do psicólogo, outros podem precisar aliar o trabalho desse profissional com um psiquiatra. De acordo com Fernanda Lima, na psicologia uma das melhores abordagens é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por trabalhar em duas frentes: os padrões de comportamento e os padrões de pensamento.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Salvador, uma pessoa com depressão pode conseguir tratamento e medicamentos gratuitos através do sistema público de saúde da cidade.

O primeiro passo é procurar a Unidade de Saúde mais próxima da sua casa, onde será avaliada a necessidade do paciente. Ele poderá ser acompanhado na própria unidade ou encaminhado para um serviço de referência, como um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro de Saúde Mental (CSM) e Pronto Atendimento Psiquiátrico (PAP). Além disso, os medicamentos podem ser encontrados nas farmácias populares da capital baiana.

Vale lembrar que a ajuda de profissionais capacitados é indispensável, mas é difícil fazer tudo isso sozinho. O suporte dos amigos e familiares neste momento, junto com o tratamento, pode ajudar na melhora do paciente, trazendo conforto e esperança. Até porque, segundo os especialistas, o tratamento não faz com que a pessoa extermine o ‘cachorro negro’, mas aprenda a lidar com ele e não se deixar ser dominado.