Entenda por que é (muito) perigoso tomar remédio por conta própria

A automedicação pode retardar o correto diagnóstico e trazer sequelas permanentes. No Brasil, segundo a OMS, 29% dos óbitos são provocados por intoxicação causada por medicamentos.

 

Seja para aquela dorzinha de cabeça “boba”, ou dor muscular, uma dor de estômago, e até mesmo para patologias que a automedicação, de forma alguma, é recomendada, a verdade é que todo mundo, em algum momento, já tomou remédio por conta própria. Mas se automedicar, definitivamente, não é nada bom e pode trazer graves riscos para a saúde, porque, sem o devido diagnóstico, não tem como saber se o problema é simples ou grave e, além disso, pode mascarar o real diagnóstico e provocar outros agravantes. 

Ao sentir dores, sintomas desconhecidos, ou persistentes, o correto é procurar um médico para a devida orientação e prescrição de exames e medicamentos. “O diagnóstico correto é o passo mais importante para um tratamento adequado e efetivo. E, quanto antes, melhor. A automedicação pode retardar o diagnóstico e trazer sequelas permanentes”, alerta o gastroenterologista e hepatologista Vinícius Santos Nunes, coordenador do Ambulatório de Hepatotoxicidade e Nódulos Hepáticos do HUPES (Hospital Universitário Professor Edgard Santos).

Mas no Brasil, a prática da automedição é alta e as consequências podem ser bem graves. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 29% dos óbitos no país são provocados por intoxicação medicamentosa e, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os analgésicos, os antitérmicos e os anti-inflamatórios representam os medicamentos que mais intoxicam. ⠀

Mas por que será que no Brasil as pessoas se automedicam tanto? De acordo com os especialistas, além da questão cultural, de achar que é normal tomar remédio porque, “se fez bem para ele, vai fazer para mim também”, ainda existe a questão da dificuldade de acesso ao sistema de saúde.

 

 

É preciso muito cuidado

Além de retardar o correto diagnóstico e trazer sequelas permanentes, Dr. Vinícius também alerta que a automedicação pode ser perigosa por outros motivos: a indicação pode estar incorreta, uma vez que o que é bom para um, pode não ser para o outro e, com isso, a pessoa vai estar fazendo uso de uma droga desnecessária, retardando o tratamento adequado; e todas as medicações têm efeitos colaterais, contraindicações e interações medicamentosas que devem ser avaliadas caso a caso, antes da prescrição. “Se o paciente já faz uso de certas medicações habitualmente, uma nova medicação pode potencializar ou neutralizar os efeitos das demais, e isso também deve ser do conhecimento de quem está prescrevendo a medicação”, reforça o hepatologista.

Outro perigo, alerta o médico, o é o risco da dosagem, ou a forma de uso inadequada. Doses muito baixas podem não fazer o efeito desejado, e as doses excessivas aumentam, e muito, os efeitos colaterais. Mas o maior risco, destaca o médico, sem dúvida é o da toxicidade associada às medicações tomadas inadvertidamente, que, em alguns casos, podem ser fatais. “Quase todas as classes de medicamentos podem ter algum risco, a depender da forma de uso”, alerta o hepatologista. E não só os remédios tradicionais, mas outras classes de medicamentos também podem perigosas.

 

Cuidado com chás, fórmulas emagracedoras e afins

As multifórmulas emagrecedoras, por exemplo, têm trazido graves consequências às pessoas que acreditam que os extratos vegetais são isentos de efeitos colaterais. Inclusive, recentemente, a Anvisa proibiu a venda de cerca de 140 medicamentos emagrecedores depois que uma enfermeira de 42 anos, em São Paulo, morreu após fazer uso de um desses remédios. Dr. Vinícius alerta que isso é muito grave e as pessoas precisam levar em consideração que as ervas, chás e fitoterápicos também possuem princípios ativos, assim como as medicações, e também trazem risco de intoxicação, interação medicamentosas e graves efeitos colaterais. “A automedicação com esses agentes também representa muito risco”, reforça o especialista.

 

Os principais perigos da automedicação

 

INTOXICAÇÃO. Os remédios que mais causam essa reação são os antitérmicos, analgésicos e os anti-inflamatórios.

ALERGIAS. Não é incomum o organismo reagir a determinado medicamento, provocando coceira e outras manifestações.

DEPENDÊNCIA. Quando ingeridas de forma incorreta, e por tempo prolongado, algumas substâncias podem viciar.

INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA. É quando ocorre, de forma frequente e contínua, a ingestão de vários medicamentos, levando ao risco de um anular, ou potencializar, os efeitos do outro.

RESISTÊNCIA AO MEDICAMENTO. Isso ocorre porque o uso indiscriminado de remédios facilita que os microrganismos fiquem resistentes à substância. O uso incorreto de antibióticos, por exemplo, pode prejudicar o tratamento de infecções futuras.

MASCARAR O DIAGNÓSTICO CORRETO. Remédios que aliviam rapidamente dor e mal-estar podem mascarar a causa real dos sintomas, que deve ser investigado para um correto diagnóstico e tratamento.

 

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