Fones de ouvido: o uso excessivo pode lesar as células sensoriais

O uso excessivo de fones ouvido representa riscos para a audição, sobretudo com volumes altos. Com o tempo, pode acarretar a perda auditiva adquirida, diferente da perda congênita, que está presente desde o nascimento.

 

Embora não exista uma determinação única que qualifique o que é “uso excessivo” de fone de ouvido, alguns estudos apontam como padrão a regra 60/60, que consiste em manter o volume dos fones de ouvido em 60% do volume por 60 minutos por dia, no máximo. Exposição superior a 110 decibéis e acima de 60 minutos pode causar perda auditiva.

“Quando os fones são utilizados em volumes elevados e por longos períodos de tempo podem lesar as células sensoriais do ouvido interno, principalmente as células ciliadas, que são responsáveis por converter as vibrações sonoras em sinais elétricos que são transmitidos ao cérebro para serem interpretados como som”, explica a médica otorrino Natasha Braga, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além disso, Dra. Natasha alerta que a exposição frequente a volumes altos pode prejudicar a capacidade de compreensão da fala, especialmente em ambientes ruidosos, ou a diminuição da percepção de sons de alta frequência. Essas queixas podem ser indício de comprometimento da audição. “O zumbido de som contínuo ou intermitente nos ouvidos na ausência de qualquer estímulo sonoro externo também pode ser decorrente do uso excessivo de fones de ouvido, o que é um alerta importante de danos à saúde auditiva. Esse sintoma pode ser unilateral ou bilateral, além de se manifestar de diferentes formas, como chiado, apito, assobio e intensidade”, explica a especialista. “Na presença desse sintoma é crucial interromper ou reduzir o uso de fones de ouvido para evitar comprometimento da audição e consultar um otorrino. O uso prolongado em volumes elevados também pode levar a desconforto, otalgia, sensação de pressão ou plenitude auricular, além de hipoacusia ou dificuldade de ouvir sons baixos após retirada dos fones”, reforça Dra. Natasha.

 

A perda da audição pode ser irreversível

A perda auditiva adquirida pelo uso excessivo de fones é chamada de PAIR (perda auditiva induzida por ruído). Conforme explica a fonoaudióloga audiologista Mara Rissatto, professora adjunta da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e especialista em diagnóstico audiológico, o volume elevado do fone de ouvido gera lesões que podem ocasionar a perda auditiva gradual e permanente ao longo dos anos. “Trata-se de um processo irreversível e que pode tornar-se progressivo em decorrência da exposição contínua e agravada por outros fatores ambientais e genéticos. A depender do grau de comprometimento auditivo, o tratamento tem que ser através do uso de aparelhos auditivos”, explica a especialista, orientando que, embora cada caso seja um caso, é necessário fazer uma avaliação com médico otorrino e também com fono audiologista para que seja indicado o tratamento adequado.

 

Adolescentes e crianças

Com muitos anos de atuação nessa área, Mara Rissato tem visto em sua rotina clínica a ocorrência de muitos casos com adolescentes e adultos jovens que já apresentam perdas auditivas discretas decorrentes do uso excessivo de fones de ouvido. “Como são perdas auditivas discretas, não são identificadas no dia a dia, mas é um sinal precoce já instalado que vai evoluir para perda auditiva com prejuízos para a comunicação”, alerta a fono, chamando a atenção também para o uso de fones por crianças, principalmente para jogos eletrônicos em volumes não controlados e por períodos prolongados. “Isso é preocupante, já que muitos dos jogos são de estímulos sonoros abruptos, com tiros e bombas, aumentando a chance de lesão no sistema auditivo”.

 

Fazer pausas e higienizar

A fonoaudióloga alerta que também é fundamental realizar pausas regulares durante o uso de fone de ouvido. “Os aplicativos, em sua maioria, emitem uma mensagem de alerta quando o volume ultrapassa o limite seguro para a audição e esse limite deve ser respeitado”, alerta. Outro ponto importante destacado pela especialista é em relação à higienização: sujeira, poeira e cera de ouvido se acumulam nas ponteiras e na parte metálica do fone, o que pode afetar a qualidade do som e surgimento de bactérias, causando inflamações, alergias e infecções no ouvido. “O correto é usar fontes de ouvido que podem remover as ponteiras para ser higienizadas com água morna e sabão neutro, assim como a parte metálica, que pode ser limpa com álcool isopropílico. Outra coisa importante: o fone é de uso pessoal e não deve ser compartilhado com outras pessoas”, orienta a fono.

 

Dicas para usar fones de ouvido:

 

• Escolha fones de ouvido que ofereçam isolamento acústico adequado, permitindo melhor qualidade do som em volumes mais baixos;

• Evite usar fones de ouvido em ambiente ruidosos;

• Faça pausas regulares para evitar a fadiga auditiva;

• Mantenha o volume dos fones de ouvido em um nível que você consiga ouvir claramente o que está acontecendo ao seu redor;

• Higienize o fone de ouvido regularmente e não compartilhe com outras pessoas;

• Ouvir zumbidos, tipo chiado, apito e assobio, de forma contínua ou intermitente na ausência de qualquer estímulo sonoro externo é um alerta importante. Procure um otorrino e um fonoaudiólogo audiologista especialista para avaliação.

 

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