Inteligência Artificial em prol da saúde

A Inteligência Artificial transforma o setor de saúde com diagnósticos mais rápidos e seguros, automação de tratamentos e maior eficiência em unidades públicas e privadas.

 

A Inteligência Artificial vem provocando transformações positivas ao setor de saúde. A capacidade de processamento de dados, de forma rápida e precisa, tem contribuído para diagnósticos precisos de doenças e até mesmo na escolha dos tratamentos mais adequados. Por isso, é crescente o uso da IA nas unidades privadas e públicas de saúde.

O último mapeamento da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e Associação Brasileira de Startups de Saúde (ABSS) apontou que mais de 62% das unidades já utilizam a tecnologia de alguma forma em seus processos.

 

Exemplos de aplicação na Bahia

Setor privado

No Hospital Santa Izabel (HSI), o setor de Medicina Nuclear fez, recentemente, alguns investimentos que envolvem a utilização da IA. “Adquirimos softwares de inteligência artificial que estão instalados nos equipamentos e que conseguem modular a dose da radiação que é dispensada de forma automatizada para cada tipo de paciente. Ele reconhece, por exemplo, que em um paciente mais magro possamos dispensar menos radiação para poder fazer a imagem. Isso acaba fazendo muita diferença”, citou a médica nuclear Adelina Sanches, responsável técnica do HSI. Há ainda softwares que possibilitam ganho de sinal, reduzem o tempo de processamento e proporcionam imagens mais nítidas.

No Hospital da Bahia, o coordenador de Informática Médica, Albert Bacelar, citou dois exemplos de aplicação da Inteligência Artificial que são utilizados em grande escala em toda rede da Dasa, inclusive na unidade baiana. Um deles é o Programa Kardia, desenvolvido em parceria com uma startup. Nele, eletrocardiogramas ficam armazenados em nuvem e são filtrados por algoritmos de IA. “Os que apresentam alterações no traçado são priorizados para a realização do laudo pelo médico, diminuindo o tempo de início de tratamento”, informou. Já no Eletrocardiograma (ECG), algoritmos identificam casos de arritmia com mais agilidade, encaminhando os pacientes que demandam cuidado para um time especializado e, quando indicado, é realizado procedimento como a ablação por radiofrequência. Nos dois casos, segundo Bacelar, existe uma equipe médica que valida esses dados, pra evitar erros de diagnósticos.

 

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A Rede D´Or, proprietária dos hospitais Aliança, São Rafael e Cardiopulmonar, em Salvador, iniciou em 2020 as primeiras experiências em inteligência artificial, mas foi em 2022 que a IA começou a ser implantada na rede, especialmente na área de radiologia. O setor, segundo a empresa, é o que está mais avançado, especialmente para o auxílio no diagnóstico de doenças pulmonares. A Rede usa a ferramenta LUNIT para a interpretação dos exames de raio-X de tórax. O algoritmo faz a primeira leitura da radiografia e o radiologista realiza a segunda leitura, melhorando a assertividade da análise dos dados. “Além disso, todos os hospitais possuem uma ferramenta de reconhecimento de voz para elaborar o laudo. O profissional de saúde dita o laudo, não precisa digitar, e a ferramenta transcreve o que ele está falando. Isso é uma inteligência artificial de processamento de linguagem natural para transformar a linguagem falada na escrita”, explica Rosana Rodrigues, pesquisadora do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

Uma outra ferramenta de IA está sendo treinada para detecção, caracterização e quantificação de doenças pulmonares, como a fibrose pulmonar e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Por enquanto, cerca de 100 mil imagens de enfisema pulmonar, de mais de 300 exames tomográficos, estão sendo trabalhadas para que a máquina possa identificar futuramente os padrões em suas análises, sendo capaz de indicar ausência ou presença de enfisema pulmonar, seus subtipos, sua extensão e estratificar os pacientes por gravidade.

 

Setor Público

É crescente também o uso da inteligência artificial nas unidades públicas. O Hospital Geral Clériston Andrade 2 (HGCA 2), em Feira de Santana, foi um dos primeiros do Brasil a utilizar tomógrafo com inteligência artificial na captura de imagens, reduzido índice de radiação. Ele compõe um moderno parque de imagem da unidade. O equipamento possibilita aquisições de imagens em apenas 23 segundos com até 160 cortes simultâneos, além de capacidade de reconstrução interativa com até 70 imagens por segundo. O Centro de Hemorragia Digestiva do Interior (CHDI), na unidade, também tem se destacado, com técnicas inovadoras e equipamentos tecnológicos avançados para tratamentos de doenças gastrointestinais.

O uso da inteligência artificial e da tecnologia digital na medicina foi, inclusive, tema debate pelo Grupo de Trabalho da Saúde do G20, em Salvador. Os membros dos 20 países concordaram que a IA já é uma realidade, mas ponderaram quanto à necessidade de regulações para garantir a segurança dos pacientes e mitigar desigualdades e disparidades existentes no acesso à saúde. "A IA amplia o poder computacional, o processamento de dados, a codificação e programação, o reconhecimento de padrões e generação linguística, orientada para melhorar a performance e a gestão de sistemas de saúde. Considerando suas potencialidades, precisa ser compreendida e incorporada não como uma commodity com valor de mercado, mas ter o seu uso orientado para o bem comum”, afirmou a secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad. 

 

Capacitação em IA

O pesquisador sênior do Hospital Israelita Albert Einstein e Co-fundador e chief scientific officer da startup nacional D2DNA, Helder Nakaya, considera urgente a necessidade de investimentos e avanços tecnológicos dos cursos de graduação de Medicina. “Se você quer aplicar uma medicina moderna é necessário investir em tecnologia. A Inteligência Artificial é uma revolução que já está acontecendo e quem não investir nesta área vai formar profissionais atrasados”, afirmou.

Segundo Nakaya, o uso de IA vai ser incorporada à saúde da mesma forma que outras tecnologias, como foi o ultrassom, a ressonância, entre outras. “O médico não precisará ser um programador especialista em IA. Mas, do mesmo jeito que ele tem que entender o mínimo de fisiologia, farmacologia e bioquímica para entender como tratar ou diagnosticar uma doença, também terá de entender como funciona a inteligência artificial”, declarou,

Algumas instituições de ensino já se preparam para a utilização da IA no processo ensino/aprendizagem. Além de incluir o tema em sala de aula e nos laboratórios, algumas faculdades oferecem cursos de capacitação no assunto. É o caso da Faculdade Unidom Afya, que lançou um curso 100% online voltado ao o futuro da prática médica com a aplicação do IA. Além das aulas à distância, também serão realizados workshops presenciais em algumas capitais.

A Universidade do Coração, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também lançará, neste mês de setembro, um curso de inteligência artificial à distância voltado para médicos associados. “Todos os módulos serão acompanhados de artigos científicos e teremos ensino na prática”, explicou o cardiologista baiano Mário Rocha, que é membro da SBC. Segundo ele, a carga horária deve ser próxima a 15 horas.