Sífilis: saiba mais sobre essa doença que não para de crescer no Brasil
A sífilis é uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) que não para de crescer no Brasil, e preocupa médicos e serviços de saúde. E a principal causa da disseminação da doença é o sexo sem camisinha.
Dados do Ministério da Saúde informam que no Brasil são diagnosticados 18 casos por hora. Em 2019 foram registrados mais de 158 mil casos, o que representa um aumento de 28,3% em relação a 2018. Na Bahia, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), entre os anos de 2015 e 2019 foram 34 mil casos.
Para o urologista André Costa Matos, da Sociedade Brasileira de Urologia – Secção Bahia (SBU-BA), a diminuição do uso de camisinha, principalmente pelos jovens, se deve à redução nas campanhas para uso de preservativo, estimuladas pela diminuição na mortalidade da Aids. “A geração mais jovem não acompanhou a fase inicial, em que adquirir HIV era sentença de uma morte degradante e sofrida. A falta desse estigma, associado à redução das campanhas para uso de camisinha, abriu espaço para a epidemia de sífilis que se vê hoje”.
Além do sexo desprotegido outros fatores também contribuem para esse cenário, conforme explica o médico Antônio Carlos Bandeira, infectologista da Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado da Bahia (DIVEP). “Além da falta e precariedade de informações relacionadas às IST, a própria característica da doença, que se instala de forma branda, e por vezes, sem sintomas, retarda a busca por diagnóstico”.
O infectologista alerta que a sífilis causa grandes problemas de saúde, uma vez que o Treponema Pallidum, a bactéria que causa a doença, mantém uma infecção crônica e debilitante no organismo. “Ao longo dos anos pode afetar o coração e o sistema nervoso central, chamado de neurosíflis, além de colocar em risco o feto em formação, durante a gravidez”.
Sífilis transmitida na gestação
Embora o diagnóstico da sífilis gestacional seja simples, e o seu rastreamento obrigatório durante o pré-natal, a sífilis transmitida ao feto através da placenta, afeta, anualmente, cerca de um milhão de gestantes no mundo. “A sífilis congênita pode trazer problemas graves, como a morte do feto, em até 40% dos casos, malformação e sequelas irreversíveis nos recém-nascidos”, informa o urologista André Matos.
A sífilis congênita se apresenta em dois estágios: precoce (diagnosticada até os dois anos de vida), e tardia, quando é diagnosticada após esse período. Dados do Ministério da Saúde informam que 50% das crianças infectadas apresentam sintomas nos primeiros três meses de vida, por isso é muito importante a triagem sorológica da mãe na maternidade.
De acordo com Dr. Bandeira há dados que mostram que entre 2% a 5% das gestantes prestes a parir tem sorologia positiva para a doença. “A sífilis em neonatos tem aumentado em proporções muito grandes”, informa o infectologista. Na Bahia, foram notificados mais de 12 mil casos em gestantes, entre os anos de 2007 e 2016.
Sintomas e contaminação
Os sintomas dependem das fases, mas nos estágios primário e secundário da infecção a possibilidade de transmissão é maior. O estágio terciário - a forma mais grave da doença - pode levar à morte caso não haja um tratamento adequado.
Sífilis primária - corre em alguns dias após o contágio, e é caracterizada por uma pequena úlcera indolor na região genital que, muitas vezes, pode passar despercebida. Essa lesão melhora espontaneamente.
Sífilis secundária - cerca de 4 a 10 semanas após o contágio podem ocorrer lesões na pele, caracteristicamente nas palmas das mãos e plantas dos pés, além de aumento dos gânglios linfáticos, febre, dor de cabeça, mal-estar e inapetência. Essas manifestações podem regredir, mesmo sem tratamento.
Sífilis latente – esse estágio pode durar anos ou décadas, em que o paciente permanece sem sintomas, mas pode transmitir a doença.
Sífilis terciária – a pessoa pode apresentar aneurismas graves do coração.
Neurosífilis – quando envolve a cognição e alteração de comportamento.
Tratamento
O tratamento é à base de penicilina: para os estágios primário, secundário e terciário é com penicilina benzatina (benzetacil), e para a neurosífilis com a penicilina cristalina.
No caso das gestantes: quando detectado, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível com a benzetacil, que é o único medicamento capaz de prevenir a transmissão da doença para o bebê. A parceria sexual também deve ser testada para evitar a reinfecção da gestante.
Prevenção
Por ser tratar de uma IST, a medida mais importante de prevenção é o sexo seguro, com uso regular da camisinha feminina e/ou masculina, e um bom esclarecimento sexual para evitar comportamentos de riscos. Vale ressaltar que a transmissão também pode ocorrer por sexo oral.
No caso das gestantes, o acompanhamento de um bom pré-natal contribui para o controle da sífilis congênita.
Ainda não existe vacina disponível para sífilis.