Três décadas de luta contra a Aids

.Há 30 anos, no dia 27 de outubro de 1988, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleciam o dia 1º de dezembro como Dia Mundial de Luta contra a Aids. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou uma redução de 16% no número de detecções de pessoas infectadas nos últimos seis anos, saindo de 21,7 casos por cada 100 mil habitantes, em 2012, para 18,3 em 2017.

Apesar de menos expressiva, também houve queda de 5% no número de internações de pessoas com Aids na Bahia. Segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), 836 pessoas foram internadas em 2017, contra 879 em 2016. Este ano, entre os meses de janeiro e junho, foram contabilizadas 273 internações.

Segundo a sanitarista Helena Lima, coordenadora do setor de Infecção Sexualmente Transmissível/Aids e Hepatite do município de Salvador, essa redução está ligada diretamente à melhora da informação sobre transmissão e prevenção. “A melhor prevenção é sempre se proteger das duas principais formas de contágio: na hora do sexo, usando camisinha, o contato com o sangue de outras pessoas, que deve ser evitado a todo custo”, orienta.

Mas nem sempre foi assim. Cinco anos após a descoberta do HIV, vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Acquired Immunodeficiency Syndrome, em inglês), 65,7 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas com o vírus, e 38 mil já tinham falecido. Por isso a necessidade de celebrar a data, que tem o objetivo de conscientizar a população sobre os perigos da doença e relembrar as lutas, incluindo aquelas contra o preconceito. “Você pode abraçar alguém com Aids, pode dividir o sanitário com o portador de HIV, usar os mesmos talheres... Isso não gera risco algum”, garante a sanitarista, desfazendo alguns dos mitos frequentes que envolvem a doença.

 

Detecção e prevenção

 

O cenário atual relativo ao tratamento também em nada lembra o de 30 anos atrás, a começar pela detecção. Se antes faltavam exames, hoje eles estão disponíveis de forma gratuita em várias unidades de saúde do país e devem ser feitos anualmente.  Em Salvador, a população pode procurar os seguintes serviços:

 

• Serviço Municipal de Assistência Especializada (Semae) - Liberdade
• Servico de Atenção Especializada (SAE) - Itapagipe e Nazaré
• Hospital Geral Roberto Santos - Cabula
• Hospital das Clínicas - Canela
• Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap) - Garcia

 

A prevenção também ganhou dois grandes reforços: a Profilaxia Pré-Exposição (PreP) e Profilaxia Pós-Exposição (PEP). A primeira é destinada a pessoas que possam ter uma exposição continuada ao HIV, a exemplo de profissionais do sexo. E consiste no consumo de duas drogas. “A PreP previne apenas contra o HIV, não impedindo o contágio de outras doenças sexuais, como a sífilis. Por isso é sempre importante usar camisinha”, destaca a infectologista Miralba Freire,  diretora do Cedap.

A PEP, por sua vez, é composta por três drogas e serve para tentar evitar o contágio com o HIV, após algum incidente, seja ele um relação sexual não segura ou contato com o sangue de alguém. “Ele é muito utilizado por pessoas que tiveram uma relação descuidada, foram violentadas ou até mesmo por quem trabalha em hospitais e sofreu algum acidente de trabalho”, afirma Helena.

Confira os locais onde a PreP e PEP são distribuídas gratuitamente em Salvador:

 

• Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Itapuã
• UPA Barris
• UPA Valéria
• UPA PeriPeri
• 12º Centro de Saúde Alfredo Bureau - Boca do Rio
• Hospital da Mulher - Roma
•Cedap - Garcia

 

Coquetel

Felizmente os tratamentos contra a síndrome também evoluíram muito, mas apenas um se mostra eficiente, o famoso ‘coquetel’. “Ele já passou por diversas mudanças e hoje é composto por menos remédios, porém com resultados mais efetivos e menos agressivos”, ressalta Dra. Miralba.

A médica explica, no entanto, que não se trata de apenas um tipo de coquetel. Existe um específico para grávidas, por exemplo, mas de um modo geral, ele é composto por 22 tipos de drogas e o paciente toma cerca de três doses ao dia. “Hoje, os medicamentos têm maior eficiência, principalmente por conseguir criar uma barreira genética, o que impede o vírus de criar resistência a ele. Além disso, seus efeitos benéficos duram mais, enquanto os colaterais, como distúrbios metabólicos e problemas renais, foram praticamente zerados”, argumenta a infectologista.

 

Cuidado com gestantes

 

Além do contágio via sexual ou sanguíneo, existe a transmissão vertical, quando a mãe transfere o vírus do HIV para o filho durante a gestação. Segundo Dra. Miralba, nestes casos, a gestante precisa tomar o coquetel específico durante toda a gravidez. “Se o procedimento for realizado na maneira correta, as chances da criança nascer com o vírus são menores do que 1%”, comenta. Após o nascimento, a criança também precisa ser medicada durante um mês. Nesse caso, é ministrada a versão do remédio em xarope.