Avanços para o tratamento da hepatite D
Um novo teste de laboratório comprova a quantidade do vírus no paciente infectado, além de ajudar os médicos a monitorarem o quadro clínico desses doentes
A hepatite D (ou hepatite Delta), a mais grave dentre todas as hepatites virais, é uma doença que pode evoluir rapidamente para a cirrose e o câncer de fígado. Com poucas chances de tratamento, até há pouco tempo se usava apenas o Interferon, com 17% de chance de sucesso e muitos efeitos colaterais. Hoje, outro medicamento vem sendo usado na Europa, o Bulevirtide, mas ainda não chegou ao Brasil.
Por aqui, a novidade é um novo teste de laboratório que comprova a quantidade do vírus no paciente infectado, além de ajudar os médicos a monitorarem o quadro clínico desses doentes. Os exames de carga viral foram desenvolvidos pela Fiocruz Rondônia e testado no Centro de Infectologia Charles Merieux & Laboratório Rodolphe Mériux da Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre). De acordo com nota divulgada pela organização “o apoio da Fiocruz, através da expertise dos seus laboratórios agregarão imenso na geração e democratização de conhecimento nas doenças que vitimam populações mais vulneráveis na Amazônia”. O exame ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde mas o acordo de cooperação deverá permitir que seja aplicado em laboratórios públicos de todo o país.
“Tivemos a sorte da Fiocruz ter colocado um laboratório avançado de medicina tropical em Rondônia. E com a Fundação Merieux, conseguimos trazer um laboratório muito avançado em biologia molecular para o Acre, um investimento gigantesco. Neste contexto, nada melhor do que cooperar os dois laboratórios”, comemora Dr. Raymundo Paraná, especialista em hepatologia, professor titular de gastroenterologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisador em hepatites virais e doenças relacionadas em toxicidade hepática.
A prevenção da hepatite B evita a hepatite D
A hepatite D só atinge o paciente que já esteja com a hepatite B e torna a hepatite B ainda mais agressiva para a cirrose e o câncer de fígado. Sendo assim, é de vital importância prevenir a hepatite B através da vacina, que está disponível no SUS. No Brasil, tanto a hepatite B quando a D estão praticamente restritas à região Norte, sobretudo entre as populações dos povos originários e ribeirinhos, os mais vulneráveis devido à falta de acesso à saúde. “Na Amazônia brasileira as hepatites virais são um verdadeiro desastre”, esclarece Dr. Paraná. Além de ser a mais grave de todas as hepatites virais, o médico destaca que a hepatite D é a mais negligenciada. “Praticamente não se testa fora da região amazônica, o que pode trazer surpresa, como aconteceu recentemente, onde foram identificados casos no interior de Minas Gerais e no Maranhão”.
A importância das pesquisas
Os avanços nos estudos e nas pesquisas das hepatites virais no Brasil tiveram grande contribuição de médicos baianos, a exemplo do Dr. Raymundo Paraná e Dr. Zilton Andrade, já falecido, um dos maiores especialistas do mundo em patologia de fígado e referência em medicina tropical. “Eu tive a honra de ser aluno do professor Zilton e trabalhar com ele na área de pesquisa. Ele foi um ícone”, exalta Dr. Paraná.
Graças a colaboração entre o centro de pesquisa e estudos da UFBA e os centros amazônicos, muitos médicos de várias regiões foram treinados na Bahia e depois retornaram aos seus estados para trabalharem, especificamente, pacientes com doenças hepáticas avançadas, principalmente pelas hepatites B e D. Foi nessas circunstâncias que foram criados os centros de referência na região Norte. “Até 2010, 2011 não havia hepatologistas naquela região. O que nós fizemos foi um projeto articulado com o Ministério da Saúde, contando com recursos de outras instituições para treinar profissionais em ciência básica, biologia molecular para o diagnóstico da doença e profissionais clínicos para lidar com pacientes ambulatoriais e a busca ativa nas populações mais vulneráveis na região amazônica. Esse trabalho foi muito importante e trouxe grandes benefícios no acompanhamento dos pacientes nessas regiões mais carentes e isoladas”, revela Dr. Paraná.
A hepatite C, que já foi uma doença bem grave no Brasil, responsável pela maioria dos casos de câncer de fígado, hoje tem tratamento extremamente simples, disponível pelo SUS, com 98% de chance de cura, e sem efeitos colaterais. A hepatite B tem um bom controle, assim como o HIV. Os medicamentos não eliminam o vírus, mas “desligam” ele, de forma que a doença hepática não evolui. Recentemente, um congresso em Boston revelou 3 drogas que estão sendo testadas para a hepatite B, com resultados promissores.
Com relação à hepatite A, geralmente de evolução benigna, Dr. Paraná alerta que ela sempre está presente em nosso meio e, em alguns períodos do ano aumenta a frequência, como, por exemplo, depois do Carnaval, já que pode circular facilmente em aglomerações. “Quem não se imunizou, pode ficar suscetível à doença na fase adulta, que pode não ser tão benigna quanto é na infância.”
Existe vacina para as hepatites A e B, mas não para a C.
Hepatite A – A transmissão pode acontecer em contato saliva, fezes, água e alimentos contaminados.
Hepatite B e D – A transmissão pode ocorrer pelo contato com sangue contaminado ou com outros fluidos corporais como sêmen, secreção vaginal e o leite materno. Os indivíduos infectados podem se tornar portadores crônicos, podendo transmitir a doença para as pessoas com as quais convive ou relaciona. A hepatite D só se desenvolve em que tem hepatite B.
Hepatite C – Até 1994 podia ser transmitida pela transfusão de sangue, por isso, quem fez transfusão até esse período precisa ser testado. Depois de 1994, o teste passou a ser feito direto no doador.
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