Crioterapia capilar no tratamento de câncer: preserva o cabelo e a autoestima

O procedimento causa diminuição do fluxo sanguíneo nos folículos capilares e evita, ou reduz, a queda dos fios

 

A crioterapia capilar é uma técnica que tem como objetivo prevenir a queda de cabelo induzida pela quimioterapia, que ocorre em 65% dos pacientes que enfrentam o tratamento do câncer com agentes quimioterápicos. Nos casos de câncer de mama, por exemplo, a queda de cabelos é considerada o pior efeito colateral, e um em cada 10 pacientes pensam em desistir do tratamento só por conta disso.

Esse efeito colateral, apesar de transitório, na grande maioria das vezes influencia diretamente nos aspectos emocionais e psicológicos do paciente, comprometendo sua qualidade de vida. “No passado, muitas estratégias já foram usadas com o objetivo de minimizar isso, mas, até o momento, o resfriamento do couro cabeludo tem se mostrado o tratamento mais eficaz nestes casos”, revela a dermatologista Cristiana Silveira, professora de dermatologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Por isso, medidas que aumentam a autoestima são importante aliadas para a melhora do equilíbrio emocional, revela a oncologista Clarissa Mathias, do Núcleo de Oncologia da Bahia/Oncoclínicas, grupo que usa o primeiro sistema de crioterapia capilar no mundo com um líquido circulante para resfriar o couro cabeludo de maneira estável e constante. "O impacto negativo sobre a autoestima e o bem-estar geral causado pela perda de cabelo gera inseguranças relacionadas aos desdobramentos que a doença provocará na imagem do paciente, principalmente nas mulheres, e costuma repercutir até mesmo no tratamento da doença", explica. 

 

Como funciona

Uma touca especial resfria o couro cabeludo a uma temperatura entre 18 ºC e 22 ºC, e a mantém estável, o que permite menor absorção dos medicamentos nesta região. O procedimento causa diminuição do fluxo sanguíneo nos folículos capilares e evita, ou reduz, a queda dos fios. O paciente veste a touca hipotérmica, que fica conectada diretamente ao sistema de resfriamento. A touca é colocada cerca de 30 minutos antes e o paciente permanece com ela em torno de uma hora e meia após o término da infusão dos quimioterápicos, dependendo do protocolo adotado. “Ao longo dos anos, a técnica vem sendo aperfeiçoada e os resultados vêm melhorando bastante com múltiplos aprendizados em relação aos cuidados capilares, pré e pós-utilização e redução do desconforto relacionado ao frio”, explica a oncologista.

 

Contraindicações

O procedimento é bastante seguro, mas é contraindicado para pacientes que apresentem neoplasias hematológicas (leucemia, linfoma não Hodgkin e demais linfomas generalizados); tumores do sistema nervoso central; tumores da região da cabeça e pescoço, pacientes que irradiaram, ou estão em planejamento para irradiar o crânio; e alergia ao frio.

 

Sobre a eficácia 

A oncologista explica que não há números apurados no Brasil, considerando que essa técnica foi aprovada pela Anvisa no início de 2015, mas pesquisas realizadas em vários países da Europa, onde sua aplicação já vem sendo feita ao longo dos últimos anos, mostram que a redução da taxa de alopecia (queda do cabelo) variou de 49% até 100% em mais de 2 mil pacientes avaliadas. “Isso significa que a queda de cabelos foi praticamente imperceptível em boa parte dos casos”, analisa Dra. Clarissa.

 

Efeitos colaterais

A dermatologista Cristiana Silveira alerta que a técnica pode causar alguns efeitos colaterais, como dor de cabeça, enjoos, tontura, coceira e sensibilidade no local. “Como o tratamento pode ser desconfortável para alguns pacientes, o seu uso deve ser individualizado”, ressalta.

 

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