Os benefícios do cuidado paliativo no tratamento do câncer
Os principais critérios de recomendação para os cuidados paliativos são para os pacientes que esgotaram todas as possibilidades de tratamento de manutenção ou prolongamento da vida, que apresentam sofrimento e optam por manutenção de conforto e dignidade da vida.
Os cuidados também visam melhorar a qualidade de vida através da prevenção e controle de eventuais sintomas trazidos pela doença, como é o caso do câncer.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) orienta que esses cuidados sejam, sempre, os mais precoces possíveis, uma vez que auxiliam no manejo dos sintomas de difícil controle e melhoram as condições clínicas do paciente. E, à medida que a doença avança, a abordagem paliativa deve ser ampliada, visando também cuidar dos aspectos psicológicos, sociais e espirituais.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu os cuidados paliativos como essencial para o paciente e seus familiares, e deve ser feito desde o diagnostico.
De acordo com a oncologista Renata Cangussu, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica/ Regional Bahia (SBOC-BA) o apoio da OMS para o tratamento paliativo é extremamente importante. “Além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes fora de possibilidades terapêuticas com intuito curativo, o tratamento paliativo precoce reduz internações desnecessárias e o uso de serviços de saúde”.
Segundo a oncologista, a expectativa é que aumente a oferta desse tipo de tratamento diante da crescente carga de doenças não transmissíveis, e do envelhecimento da população. No entanto, em todo o mundo, apenas 14% das pessoas que precisam desse cuidados, de fato recebem.
“A regulamentação desse serviço de saúde visa ampliar o acesso a esses cuidados tão importantes em um momento de grande fragilidade. O tratamento paliativo melhora a qualidade de vida do paciente e de sua família”.
Para a fundadora e diretora do Grupo de Apoio à Criança com Câncer – Bahia (GACC-BA), a oncologista pediátrica Núbia Mendonça, a precocidade dos cuidados paliativos, já a partir do diagnóstico, é extremamente importante e benéfica.
“O momento do diagnóstico é crucial para o paciente e seus familiares, e é a partir daí que todos precisam ser acolhidos e necessitam receber os cuidados iniciais para minimizar a dor física, emocional, espiritual e social. O câncer, por si só, é um conjunto de doenças que traz consigo o estigma da morte, quer seja no paciente adulto, criança ou adolescente. E uma das principais premissas do tratamento é desmitificar este conceito”.
Os benefícios
De acordo com Renata Cangussu, as principais medidas paliativas incluem controle de sintomas como a dispneia, dor, anorexia, caquexia, náusea, vômitos, constipação, diarreia, obstrução intestinal, fadiga, fraqueza, insônia ou sedação.
Além do controle dos sintomas físicos, o tratamento paliativo também inclui todo apoio do ponto de vista psicológico como depressão, ansiedade, angústia, abordagem sobre as necessidades existenciais e espirituais de cada um, além de tentar atender as demandas sociais de toda a rede de apoio familiar.
“O trabalho contempla desde orientações técnicas, como realização de curativos, cuidados com a pele e higiene bucal, passando por orientações nutricionais, psicológicas, controle de sintomas, até cuidados com os aspectos práticos da vida”.
Equipe multiprofissional
Qualquer profissional de saúde pode realizar os cuidados paliativos, no entanto, existem alguns profissionais especializados que são treinados especificamente para oferecer o tratamento de sintomas em cada fase da doença.
Núbia Mendonça alerta que os cuidados devem ser diferentes em cada etapa do tratamento, mas seja qual for - clínico, cirúrgico ou radioterápico - é essencial o conforto para toda a família, quer a nível hospitalar ou domiciliar. “Os efeitos colaterais de cada uma das modalidades terapêuticas devem ser tratados com rigor para minimizar o mal-estar que provocam”.
A orientação dos especialistas é que a abordagem ao paciente e família seja feita por uma equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos e farmacêuticos, em atividades diretamente ligadas às necessidades biopsicossociais.
O termo “paliativo” tem origem latina (pallium), que significa manto, e traz a ideia de proteção, em cuidados que possibilitem prevenir e aliviar o sofrimento.
O cuidado paliativo está dirigido ao alívio do sofrimento e da “dor total”, conceito que vem desde a década de 1960, introduzido pela enfermeira e assistente social inglesa Cecily Saunders: uma pessoa sofre não apenas pela sua dor física, mas também pelas limitações e consequências emocionais, sociais e espirituais impostas por sua doença.
No Brasil, essa modalidade de tratamento teve início na década de 1980 e conheceu um crescimento significativo a partir do ano 2000.
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