Falência Ovariana Precoce: o que é, os riscos e as possíveis causas

A doença representa a perda da capacidade reprodutiva da mulher com menos de 40 anos

 

Também chamada de menopausa precoce, a Falência Ovariana Precoce (FOP) é caracterizada quando a mulher apresenta ausência da menstruação por um período de aproximadamente 12 meses antes de completar 40 anos. De acordo com especialistas em reprodução humana, as complicações da FOP, em curto prazo, representam a perda da capacidade reprodutiva, e cerca de 20% das mulheres com FOP podem ter associação com hipotireoidismo.

Embora os especialistas alertem que não existam diretrizes oficiais para esse rastreamento, é importante que mulheres com fatores de risco, a cada um ou dois anos, dosem o TSH (hormônio tireoestimulante), assim como solicitem o FSH (hormônio folículo-estimulante) basal. Segundo as Diretrizes da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, a incidência de FOP gira em torno de 1% da população geral de mulheres jovens, abaixo de 40 anos. 

Em algumas situações, a FOP também pode ser chamada de Insuficiência Ovariana Precoce (IOP), nome, muitas vezes, considerado pelos especialistas o mais apropriado, pois nem sempre a mulher para de ovular nessa fase, passando, primeiramente, pelo período conhecido como baixa reserva ovariana.

 

As causas

De acordo com a ginecologista Karina Adami, especialista em reprodução humana, cerca de 50% dos casos não são possíveis de detectar um fator específico. “Existem recomendações técnicas para a realização de exames marcadores genéticos e da glândula adrenal, que podem estar envolvidos como causa, mas são exames pouco acessíveis e, de fato, não trariam uma solução para o problema”, esclarece a especialista.

Mas ela destaca alguns fatores que podem representar risco:

• Mulheres com menopausa precoce na família

• Portadoras de doenças genéticas (em especial disgenesias gonadais)

• Procedimentos ovarianos (ooforoplastias, exérese de tumores, endometriose,

drilling ovariano, embolização uterina)

• Inflamações no ovário (infecções, inflamações, autoanticorpos)

• Doenças autoimunes sistêmicas

• Exposição a quimioterápicos, radioterapia e toxinas ambientais, incluindo cigarro

• Uso de imunossupressores (drogas sistêmicas, anticorpos monoclonais)

• Deficiências de oligoelementos (zinco, selênio, iodo)

 

 

Sobre os sintomas

A especialista explica que quando a mulher apresenta sintomas, como calores ocasionais e ausência da menstruação, o processo de insuficiência já se encontra instalado, por isso, alguns exames podem ser feitos de forma precoce, como as dosagens do FSH, estradiol e, mais recentemente do AMH (Hormônio Antimulleriano), que visam alertar para as chances potenciais destas disfunções se instalarem antes da apresentação dos sintomas.

Além disso, alguns sinais da menopausa, em qualquer idade, também ganham importância nos casos suspeitos de IOP:

• Fogachos (os calores súbitos sem relação com o ambiente)

• Sudorese noturna

Insônia

• Irritabilidade

• Ressecamento genital

“O ideal é que toda mulher converse com seu ginecologista durante os exames de rotina, e sempre que modificar seus interesses e projetos de vida, como o desejo de engravidar ou não, seus prazos para isso, reforçando a ideia de aconselhamento reprodutivo”, orienta Dra. Karina.

 

Prevenção

Embora não exista um exame marcador específico que possa prevenir a instalação da FOP, a médica alerta que os fatores de risco devem ser levados em conta, estimulando o monitoramento com dosagens hormonais para detectar precocemente as desordens potenciais na função dos ovários. A especialista alerta que a instalação da FOP, na maioria das vezes, não é súbita. “Ela dá indícios anteriores de disfunção nos ovários e, posteriormente, oscilações na ovulação e distúrbios menstruais, em especial períodos de ausência da menstruação e redução do fluxo menstrual, que levam à suspeita de Insuficiência Ovariana Transitória (IOT)”.

 

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico vem com a ausência da menstruação, ou sua redução de quatro a seis meses, e a confirmação com dosagem em duas ocasiões nos níveis FSH. Após essa investigação, nem sempre é possível definir a causa específica, mas deve-se afastar todas as possibilidades

Principais critérios sugeridos para o diagnóstico:

• Idade menor que 40 anos

• Amenorreia (ausência de menstruação) de 4 meses

• Dosagens sanguíneas do FSH maior que 40 mU/ml (02 medidas com intervalos de 01 mês entre elas)

• Ponto de corte trazido para 25 mU/ml sugerido pelo ESHERE 2015

 

Cuidados após o diagnóstico

A médica alerta que mulheres com diagnóstico de IOP deverão ter seguimento regular com médicos, a fim de suplementar os hormônios que deixou de produzir naturalmente e garantir melhorias na qualidade de vida, “em especial, evitando o desgaste ósseo acelerado, e envelhecimento precoce”, reforça a médica. Ela orienta que devem ser estimuladas a adoção de dieta equilibrada, atividade física regular, e redução de estresse com práticas integrativas e abordagens holísticas.

 

Riscos para a mulher

A FOP pode trazer alguns riscos para a saúde da mulher, dentre eles: envelhecimento precoce da pele e do cabelo; alterações oftalmológicas com afinamento de córnea e redução de lubrificação ocular; ressecamento genital; dificuldades na sexualidade; redução da libido; e desgaste ósseo com risco agregado de osteoporose.

 

 

 

Ovário irregular e gestações inesperadas

Dra. Karina explica que existem períodos de transição que são naturais na vida da mulher, onde a função dos ovários é irregular. Acontece logo nos dois primeiros anos do fluxo menstrual, e nos dois anos que antecedem a menopausa definitiva. Portanto, é esperado que, acima dos 40 anos e, principalmente, dos 42 anos, as mulheres comecem a variar nestas funções. “Trata-se de uma fase onde começam a reduzir a quantidade e a qualidade de óvulos de forma rápida e inexorável. Em mulheres com FOP ou IOP, esse processo se coloca de forma antecipada e não se consegue reverter com o uso de hormônios estimulantes do ovário”, esclarece a especialista.

A médica explica ainda que, por mero acaso, entre 3 a 15% das mulheres com IOP nos primeiros três anos de diagnóstico, podem apresentar situações excepcionais de recuperação momentânea, podendo ocorrer gestações inesperadas. Por isso, é importante o médico alertar a paciente sobre o uso de preservativos ou contraceptivos para as que não desejam filhos, até a plena instalação da menopausa com níveis de FSH maiores que 40 mU/ml.  “Entretanto, para as que desejam filhos, a alternativa atual mais coerente, mas que carece de muito apoio e aceitação íntima, é a reprodução assistida com óvulos doados”, orienta a especialista.

 

Doenças associadas 

Dra. Karina alerta que as doenças abaixo merecem um olhar atento no rastreio e aconselhamento reprodutivo, já que são doenças que têm forte associação com a instalação da IOP:

• Síndrome poliglandular (adrenal, tireóide, paratireóide)

• Tireoidite de Hashimoto ou Graves

• Síndrome de Adison

• Sjogren

• Doença de Crohn

• Anemia perniciosa

• Anemia hemolítica

• Púrpuras

• Síndrome do olho seco

• Vitiligo

• Miastenia Gravis

• Artrite reumatóide

Diabetes Mellitus (em especial tipo I)

• Lupus Eritematoso Sistêmico (LES)

 

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