Por que a carne processada aumenta o risco de câncer
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), classifica as carnes processadas como carcinogênicos. Significa que há evidência suficiente de sua ligação com o aumento do risco de câncer, e os coloca no mesmo patamar de carcinógenos como tabaco, amianto e fumaça de óleo diesel.
Assim como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Instituto Nacional do Câncer (Inca) também endossa as recomendações da não ingestão de carnes processadas em nenhuma quantidade.
Na classificação, carne processada são produtos transformados por salgamento, fermentação, defumação e outros processos para realçar sabor ou melhorar a preservação e a validade do produto.
Ou seja, além de salsicha, bacon, presunto, salame, linguiça e mortadela também entram nesse rol a carne de sol e a carne de fumeiro, muito apreciadas por nordestinos.
Carnes submetidas a algum processamento industrial recebem adição de nitritos, potentes bactericidas que aumentam a validade do produto. Mas, no organismo os nitritos reagem, causando danos.
“Esses produtos têm substâncias que modificam uma estrutura dentro do estômago, transformando nitritos em nitratos, e isso aumenta o risco de câncer, principalmente o de estômago e o de cólon”, alerta o cirurgião oncológico Robson de Freitas Moura, presidente da Associação Bahiana de Medicina.
As carnes processadas geralmente são bovinas ou suínas, mas também devem ser incluídos nessa categoria produtos considerados saudáveis ou light, como peito de peru ou blanquet, que, segundo os estudos, são tão nocivos à saúde quanto o bacon ou a salsicha.
Carnes vermelhas
De acordo com a classificação, carne vermelha em geral - boi, porco, carneiro e bode - mesmo in natura está no grupo de “prováveis carcinógenos”, o mesmo em que está inserido o glifosato, princípio ativo de alguns herbicidas. In natura pode ser tanto a carne fresca, comprada no açougue, como a congelada, no supermercado.
“O consumo de carne vermelha fresca também aumenta o risco de câncer de cólon, embora não aumente o risco para câncer de estômago”, explica Dr. Robson.
Evitar e restringir
Quando se fala de “aumento de risco de câncer” associado a um determinado alimento, fala-se de consumo regular, e não da ingestão eventual. De acordo com os estudos o consumo diário de 50 gramas de carne processada, o equivalente a uma salsicha, aumenta o risco de câncer colorretal em 18%. É o segundo tipo de câncer mais diagnosticado em mulheres, e o terceiro mais frequente entre os homens, atrás do câncer de próstata e pulmão.
Portanto, a prevenção é simples: quanto menos se consome, menos risco corre. Com base nos estudos, o Inca recomenda não consumir carnes processadas em nenhuma quantidade, e limitar o consumo de carne vermelha a 400 gramas por semana.
“Os embutidos não devem ser consumidos, e a carne vermelha deve ser consumida o mínimo possível, no máximo três vezes por semana, e in natura, ou seja, sem defumar, embutir ou o no processo de salgar, como a carne de sol. A dica é substituir pela carne branca, de peixe ou frango”, reforça Dr. Robson.
O modo de preparo é importante
A maneira como a carne é preparada (vermelha ou branca) também influencia para que ela se torne mais ou menos saudável. As carnes devem ser cozidas ou assadas no forno, em vez de fritas, grelhadas ou colocadas diretamente sobre a brasa.
Então, é aconselhável diminuir também a frequência do churrasco no final de semana. Embora seja uma ocasião alegre e divertida para reunir amigos e familiares, a fumaça que sai da churrasqueira geralmente contém hidrocarbonetos, substância que também está presente no cigarro e tem sido identificada como potencialmente cancerígena.
Vida saudável
O consumo de produtos processados, em detrimento de uma “comida de verdade”, está associado ao aumento da ocorrência da obesidade, que, junto com o sedentarismo, está entre os fatores de risco do câncer.
“A obesidade está relacionada ao câncer de mama e ao câncer do endométrio. É muito importante adotar um estilo de vida com hábitos saudáveis pois isso contribui para diminuir os riscos de câncer e de doenças cardiovasculares”, alerta Dr. Robson.
Entre os hábitos saudáveis estão:
• Evitar o consumo excessivo de álcool, que é fator de risco para o câncer de estômago e esôfago;
• Evitar o tabagismo, que é altamente cancerígeno;
• Praticar atividade física diariamente;
• Manter uma alimentação saudável – com vegetais, legumes e carne branca;
• Diminuir o estresse;
• Visitar o médico periodicamente;
• Manter bons hábitos sociais e familiares, incluindo hobbys e atividades de lazer.