Síndrome hipertensiva gestacional: riscos para a mãe e o bebê
É muito importante fazer um bom pré-natal e controlar os fatores de risco, assim como procurar um ginecologista para uma completa avaliação quando tiver planos de engravidar
Embora o surgimento de hipertensão na gestação (síndrome hipertensiva gestacional – SHG) seja uma das complicações clínicas mais comuns na gravidez (estima-se que 10% das mulheres grávidas passem por isso), de acordo com o Ministério da Saúde, a SHG é a maior causa de morte materna e perinatal, e a falta de um pré-natal de qualidade e controle de fatores de risco aumentam as chances. “Na maioria das pacientes, o reconhecimento precoce da doença salva vidas maternas e fetais. Então, fazer um pré-natal com uma equipe multidisciplinar é fundamental para ter êxito no tratamento”, explica o ginecologista e obstetra Allan Nogueira. Ele alerta que, para os casos mais graves, é preciso ter suporte avançado em saúde, como UTI para a mãe e para o recém-nascido.
Além do risco de morte materna e fetal, a SHG pode causar outras complicações:
• Prematuridade
• Descolamento prematuro de placenta
• Hemorragias pós-parto
• Edema agudo de pulmão
• Histerectomia – retirada do útero
• AVC – Acidente vascular cerebral
• Insuficiência renal
• Insuficiência hepática
• Hemorragias retinianas, edema de papilas, cegueira
• Coagulopatia e emólise
Embora as causas para a SHG permaneçam desconhecidas, algumas teorias sugerem que pode estar associada a fatores, como:
• Predisposição genética
• Fenômeno imunológico
• Implantação anormal da placenta
• Lesão do endotélio vascular e estresse oxidativo
• Fatores angiogênicos (crescimento de novos vasos sanguíneos a partir dos já existentes)
Prevenção
De acordo com Dr. Allan, infelizmente não existe uma forma efetiva de prevenção da SHG. Ele explica que nos últimos anos a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem recomendado o uso de cálcio 1,5 – 2,0g para pacientes com baixa ingestão de cálcio e, recentemente, tem se utilizado o AAS – 150mg/noite para pacientes com risco elevado de desenvolvimento da doença, quando introduzida até a 16ª semana de gestação. “Essa terapêutica demostrou uma redução de 17% no risco de desenvolvimento da doença com um NNT de 72 (número necessário para tratar). Ou seja, tratamos 72 pacientes para que uma se beneficie”, esclarece o obstetra.
É muito importante que mulheres que pretendam engravidar procurem, antes, um ginecologista para avaliar seu estado de saúde. Essa avaliação pré-gestacional, afirma o médico, tem a finalidade de compensar as doenças existentes e avaliar o estado vacinal.
A SHG pode se apresentar de 4 formas clínicas:
Pré-eclâmpsia. Afeta múltiplos órgãos e é caracterizada por hipertensão, e/ou proteinúria (proteína na urina em 24 > 300mg), ou fatores de gravidade, como: plaquetas < 100.000; creatinina sérica > 1,1 ou dobro da linha de base de creatinina sérica; edema pulmonar; elevação de duas vezes o nível de transaminases; a presença de edema cerebral ou sintomas visuais.
Eclâmpsia. É quando surge uma convulsão tônico-clônica (perda da consciência e contrações musculares violentas) após a 20ª semana de gestação.
Hipertensão crônica. Quando a elevação de pressão arterial é maior que 140/90mmHg em duas ocasiões entre, pelo menos, quatro horas; anterior ou durante as primeiras 20 semanas de gestação; ou hipertensão que persiste após a 12ª semana de pós-parto.
Hipertensão gestacional. Gestantes que desenvolvem hipertensão após a 20ª semana e não apresentam proteinúria (perda de proteína na urina) e tendem a desaparecer a elevação dos níveis tensionais até a 12ª semana de pós-parto.
Hipertensão crônica supra. É a forma mais grave. É quando uma paciente com hipertensão crônica desenvolve pré-eclâmpsia.
Os fatores de risco
O índice de massa corpórea (IMC) elevado pode aumentar em 2 vezes o risco de desenvolver SHG, assim como outros fatores aumentam em 3 vezes o risco:
• Antecedente familiar de primeiro grau de pré-eclâmpsia
• Nuliparidade (mulher que nunca pariu)
• Gestação múltipla
• Diabetes (preexistente)
Outros fatores também representam risco:
• Pré-eclâmpsia em gestação anterior
• Hipertensão crônica (25% desenvolvem pré-eclâmpsia enxertada ou supra juntada)
• Hipertensão crônica e/ou doença renal
• Lúpus eritematoso sistêmico /síndrome antifosfolípede
• Idade materna maior que 40 anos (aumenta o risco em 16 vezes)
O fator obesidade, e a pandemia
O médico chama a atenção para a obesidade que, estima-se, esteja associada com mais de 200 doenças, e o seu tratamento deixou de ser uma questão meramente estética para ser uma importante política de saúde eficaz para prevenção. “Estamos vivendo uma pandemia de obesidade, por isso é muito importante, principalmente nesses tempos pandêmicos, estar com o peso adequado antes de engravidar. A obesidade tem impactos desfavoráveis no ciclo gravídico e gestacional”, orienta o ginecologista e obstetra.
Tratamento
O tratamento definitivo acontece com a retirada da placenta, ou seja, com o parto. Contudo, para pacientes em que ainda não existe um comprometimento da saúde materna e fetal, e não existe maturidade da função pulmonar fetal, pode ser utilizada medidas que tentem diminuir o impacto da doença para mãe e o feto:
• Repouso
• Redução do estresse
• Anti-hipertensivos para controlar a pressão
• Corticoide para acelerar a maturidade pulmonar
• Sulfato de magnésio para prevenção ou tratamento das convulsões
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