Diabetes gestacional: complicações, dieta e fatores de risco
O diabetes mellitus gestacional (DMG) é a hiperglicemia - aumento do nível de açúcar no sangue - que pode ser diagnosticada em qualquer momento do pré-natal. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), embora algumas mulheres tenham maior risco do que outras de desenvolver a doença, o DMG pode ocorrer em qualquer mulher, por isso é recomendado que todas as gestantes, entre a 20ª e 24ª semana, verifiquem como está a glicose de jejum e a glicemia após estímulo de ingestão de glicose, o chamado teste oral de tolerância a glicose (TTGO).
Ainda de acordo com a SBD, o diagnóstico é confirmado caso a glicose no sangue venha com valores iguais ou maiores a 92 mg/dl no jejum, ou 180 mg/dl e 153 mg/dl, respectivamente, 1 hora e 2 horas após a ingestão do açúcar. De acordo com a ginecologista e obstetra Luciana Vieira Lopes, embora o diagnóstico possa ser feito em qualquer momento da gestação, os protocolos médicos sugerem que logo no início do pré-natal, ainda na primeira consulta (de preferência no primeiro trimestre), a paciente seja submetida a exame de sangue para dosagem de glicemia. "O DMG não costuma provocar sintomas, mas apresenta alguns sinais que fazem o médico suspeitar da doença, como o ganho de peso gestacional e o aumento do volume de líquido amniótico”, alerta a médica.
A obstetra explica que um segundo diagnóstico é feito entre 24 e 28 semanas de gravidez, momento em que todas as pacientes que tiveram dosagem de glicemia normal no primeiro trimestre da gestação, ou para as que iniciaram o pré-natal após a 20ª semana, devem ser submetidas ao TTGO 75g. “É um exame de sangue em três tomadas para dosagem da glicemia: o primeiro é feito em jejum, o segundo uma hora após ingestão de glicose, e o terceiro duas horas após”, explica Dra. Luciana.
Para as pacientes diagnosticadas, o tratamento deve iniciar imediatamente com as orientações de controle glicêmico, garantindo ganho de peso adequado, tanto para a mãe como para o bebê. De acordo com a médica, na maioria das gestantes é possível adequar esses valores de glicemia com tratamento não medicamentoso, através de dieta e atividade física. “É importante esclarecer que o DMG é uma doença tratável, e possível de reverter as condições de risco. O objetivo do tratamento é adequar os valores da glicemia e o controle adequado de peso materno e fetal, para evitar complicações”, orienta a obstetra.
Como a alimentação exerce um papel importante para o controle glicêmico, a obstetra ressalta que é muito importante consultar um nutricionista para elaboração de uma dieta adequada.
A dieta
De acordo com a nutricionista Aline Pereira, especialista em nutrição materno infantil, a alimentação vai ser fundamental para o controle glicêmico durante a gestação, além de evitar o ganho de peso excessivo e as complicações metabólicas, como a hipertensão arterial. “A programação de ganho de peso total na gestação é feita conforme o peso que a gestante tinha quando iniciou a gestação. Não é interessante um ganho de peso excessivo em gestantes com risco de DMG”, explica a nutricionista.
A nutricionista explica que a distribuição dos nutrientes é feita de forma adequada, com valor calórico total individualizado, contendo em média 40 a 55% de carboidratos, 15 a 20% de proteínas, e 30 a 40% de gorduras. “Não se deve restringir muito a oferta de carboidrato, e sim escolher aqueles com menor índice glicêmico”, explica a nutricionista. O recomendado para consumo mínimo diário são 175 g de carboidratos, e, em média, 28 g de fibras.
É necessário fracionar a ingestão alimentar em 6 refeições por dia: café da manhã, almoço, jantar, dois lanches e uma ceia.
Alimentos liberados - a gestante com DMG deve preferir o consumo de frutas, grãos integrais, leguminosas e proteínas de alto valor biológico, como ovos, leite, peixe e gorduras boas como azeite de oliva e oleaginosas.
Adoçantes não são essenciais ao tratamento, mas podem ser usados com moderação. Estão liberados: aspartame, sacarina, acessulfame-K e sucralose.
Alimentos que devem ser evitados - açúcar de mesa, embutidos (salsicha, presunto, mortadela), alimentos industrializados (biscoitos recheados, refrigerantes, suco em pó) e excesso de frituras.
Atividade física
As especialistas alertam que a atividade física também é fundamental para o controle não farmacológico da glicemia, e deve ser estimulada quando não houver contraindicações, como o risco de parto prematuro, sangramento na gestação, desnutrição, hipertensão mal controlada e obesidade. “Os exercícios também devem ser interrompidos diante de alguns sinais de alerta, como contrações uterinas, dor na panturrilha, dor de cabeça, sangramento vaginal e perda de líquido amniótico”, orienta a obstetra.
Complicações do diabetes gestacional
Dra. Luciana alerta que o DMG é o fator de risco mais importante para o diabetes tipo 2, por isso é importante que gestantes diagnosticadas com a doença também realizem o TTGO seis semanas após o parto. E, além do diabetes tipo 2, o DMG ainda pode trazer riscos futuros, tanto para a mãe como para o bebê:
• Hipercolesterolemia (colesterol alto)
• Aumento dos níveis de triglicérides
• Doença cardiovascular
E quando não tratada de forma adequada, a doença pode trazer outras complicações:
• Parto prematuro
• Óbito intrauterino
• Lesões no parto
• Pré-eclampsia
E também para o bebê:
• Macrossomia (peso acima do esperado)
• Internação em UTI Neonatal
• Hipoglicemia ao nascer
• Atraso na maturidade do pulmão
Fatores de risco
De acordo com a SBD, alguns fatores são riscos para o desenvolvimento do diabetes gestacional:
• Idade materna avançada
• Sobrepeso ou obesidade
• Hipertensão sistêmica na gestação
• Gravidez de gêmeos
• Ganho de peso excessivo durante a gestação
• Síndrome dos ovários policísticos
• Histórico prévio de bebês grandes (mais de 4 kg)
• Histórico de diabetes gestacional
• Histórico de diabetes gestacional na mãe da gestante
• Histórico familiar de diabetes em parentes de 1º grau
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