Cirurgia devolve qualidade de vida a pacientes com Parkinson
A cirurgia de estimulação cerebral profunda (DBS, em inglês), é um dos tratamentos invasivos mais eficientes e seguros para a doença de Parkinson. A cirurgia não cura, mas na maioria dos casos controla diversos sintomas e melhora a qualidade de vida, com ganho de autonomia para o paciente. Vale ressaltar que nem todos os pacientes com a doença de Parkinson apresentam tremores - em torno de 30% dos casos -, sendo mais comuns sintomas como a lentidão dos movimentos e a rigidez. “Com a intervenção e o controle dos sintomas, o paciente pode reduzir o uso de medicamentos e sofre menos com efeitos colaterais, ganha em autonomia, independência, bem-estar e qualidade de vida”, esclarece o neurocirurgião Carlos Romeu, do Hospital Cárdio Pulmonar, um dos poucos especialistas habilitados em Salvador.
De acordo com ele, a DBS controla os sintomas motores – principalmente tremores, rigidez e lentidão dos movimentos - e está associada à melhora da qualidade de vida dos pacientes, quando selecionados de forma criteriosa. Apesar de ser muito segura, a DBS ainda é uma intervenção complexa, e no Brasil há poucos cirurgiões habilitados a executá-las.
A cirurgia
A cirurgia leva, em média, 6 horas e inclui preparo com realização de imagem pré-operatória, anestesia, implante de dispositivo cefálico, implante de eletrodos cerebrais com realização de testes neurológicos intraoperatórios e implante do neuroestimulador (uma espécie de “marca-passo” cerebral).
São feitas duas pequenas incisões de cada lado na região frontal, que geralmente ficam escondidas pelo cabelo, e uma outra incisão na região peitoral para abrigar o neuroestimulador, semelhante à uma incisão para marca-passo cardíaco.
Dr. Romeu esclarece que a recuperação, em geral, é rápida e o paciente tem alta hospitalar cerca de 48h após o procedimento, sem restrição da mobilidade. “A estimulação controlada com a ajuda dos eletrodos implantados modula o circuito defeituoso restabelecendo a transmissão de informação neural e consequente retorno do controle do movimento”, diz o neurocirurgião, explicando que a corrente elétrica utilizada é muito pequena e feita em pontos estratégicos do cérebro.
Divulgação HCP
Critérios para a cirurgia
A maioria dos pacientes com a doença de Parkinson pode fazer a cirurgia, mas nem todos necessitam da intervenção. Portanto, a seleção do paciente é feita inicialmente pelo neurologista, e depois submetida a uma avaliação multidisciplinar com neurologista, neurocirurgião, psiquiatra e neuropsicólogo para avaliar a precisão da indicação e julgar o alcance dos benefícios do procedimento para cada caso.
Conforme esclarece o neurologista Guilherme Valença, especialista em Transtornos do Movimento e coordenador do Serviço de Neuromodulação em Transtornos do Movimento do Hospital Cárdio Pulmonar, entre os critérios para a adoção da cirurgia é necessário ter a certeza do diagnóstico de Parkinson, observar se as medicações ainda fazem o efeito esperado, e atestar que o paciente tem a qualidade de vida comprometida pela dificuldade de controle dos sintomas - dificuldade de locomoção, tremor, lentidão nos movimentos ou dor. ”Indivíduos com sinais de demência, doença psiquiátrica grave e problemas de equilíbrio e marcha severos devem ser evitados”, alerta o neurologista.
Ainda sobre os critérios, o neurocirurgião Carlos Romeu reforça que o ideal é que o paciente tenha pelo menos 5 anos de doença para que possa ser melhor avaliado “e outras causas mais raras de parkinsonismo que não respondem à terapia de estimulação cerebral possam ser excluídas”, explica ele.
Tratamento não-cirúrgico
O tratamento não-cirúrgico se baseia no uso de medicamentos e inclui fisioterapia, fonoaudiologia, suporte psicológico e nutricional. "E também atividade física para melhorar a qualidade de vida do paciente e reduzir o prejuízo funcional”, alerta o neurologista Gabriel Xavier, também da equipe de Neurologia do Hospital Cárdio Pulmonar.
Outras indicações para a cirurgia
Além da doença de Parkinson, a DBS pode ser indicada para outros transtornos do movimento refratários ao tratamento medicamentoso, explica o neurologista Guilherme Valença. “Indivíduos portadores de distonias e outras formas de tremores, incluindo o tremor essencial, podem se beneficiar imensamente deste procedimento”.
Sobre a doença de Parkinson
Crônica e progressiva, a doença de Parkinson é uma enfermidade degenerativa do sistema nervoso central causada por uma diminuição da produção do neurotransmissor dopamina, levando ao comprometimento dos movimentos voluntários do corpo na forma de lentidão dos movimentos, tremores, rigidez muscular e desequilíbrio.
É a segunda enfermidade neurodegenerativa mais comum no mundo, atrás apenas da doença de Alzheimer. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, pelo menos, 200 mil pessoas vivam com esta condição.
O diagnóstico da doença é essencialmente clínico e feito por um neurologista, que diferencia a enfermidade de outras que também afetam os movimentos do corpo. Exames complementares podem ajudar no diagnóstico, como ressonância magnética e cintilografia cerebral.
Fonte: Ascom Cárdio Pulmonar
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