Doação de órgãos na Bahia: recorde e bom desempenho em transplante renal

Embora a fila de espera não seja tão longa, especialista esclarece que uma série de entraves dificultam o processo para se candidatar ao transplante

 

De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), mais de 50 mil pessoas aguardam por uma doação de órgão no Brasil, sendo rim e córnea os órgãos que reúnem o maior número na fila de espera para transplantes. Mas, mesmo com a pandemia e com alguns empecilhos que dificultam a doação de órgãos, como a negativa familiar e a subnotificação de morte encefálica (ME), os números avançam em alguns estados, a exemplo da Bahia, que está entre os que mais realizaram transplante renal no primeiro semestre de 2021 e registrou recorde de doações de múltiplos órgãos no último mês de setembro, de acordo com a Central de Notificação, Captação e Doação de Órgãos e Tecidos (CNCDO/BA). “Embora a pandemia tenha interferido negativamente, o desempenho no estado já é maior do que o registrado em todo o ano de 2020”, informa a enfermeira Carolina Sodré, especialista em doação e transplantes de órgãos e coordenadora da Central Estadual de Transplantes (CET/BA). Atualmente, a fila de espera na Bahia é de 19 pessoas para transplante de fígado, 1.222 para rim e 995 para córneas.

Para o cirurgião Leonardo Canedo, coordenador do Serviço de Transplante Hepático do Hospital São Rafael/Rede D’or, em Salvador, esse avanço não estado se deve ao desenvolvimento de políticas públicas que estimulam a doação, ao empenho da equipe da CNCDO/BA, e à criação das policlínicas no interior, que contam com capacidade para avaliar e diagnosticar portadores de hepatopatia. Além disso, a inauguração recente da unidade de referência no tratamento de doenças do fígado, vinculado ao Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (CEDAP), também foi um fator muito positivo. “Certamente, foram passos importantes nessa direção, mas a Bahia ainda tem números inferiores aos de outros estados e está abaixo, por exemplo, do Ceará e de Pernambuco”, informa.

 

As dificuldades

Dr. Leonardo destaca que, embora a fila de espera nem seja tão longa, isso não significa que não exista demanda pelo serviço. O problema é que o caminho que o paciente precisa percorrer para ser incluído na relação de candidato a transplante é longo e, muitas vezes, com entraves, como é o caso do não reconhecimento do transplante hepático no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que dificulta muito para a população que possui um convênio. Só que o transplante hepático é um procedimento reconhecido na rede suplementar como tratamento padrão para a hepatopatia crônica descompensada há mais de 20 anos. “Isso é uma falha histórica que precisa ser regularizada. O Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo e todo brasileiro tem direito de ser transplantado pelo SUS, mas ainda é um enorme desafio identificar o portador de hepatopatia que se beneficiaria com o transplante, e fazê-lo chegar até o procedimento”. De acordo com o médico, a expectativa de transplantes hepáticos necessários para atender a demanda de habitantes da Bahia, por exemplo, seria em torno de 300 transplantes/ano. Mas atualmente são realizados apenas 1/6 desses. 

O especialista acredita que é necessária uma série de medidas para melhorar esse processo, passando pelo atendimento, diagnóstico e o direcionamento para serviços de referência em alta complexidade dos pacientes do SUS portadores de hepatopatia que são, aproximadamente, 90% da população. Para isso, ele avalia ser importante intensificar as políticas de estímulo à doação, implementar a política de transplantes para estimular a produção das equipes, sedimentar a estrutura de alta complexidade e o fluxo de encaminhamento de pacientes portadores de hepatopatia para centros de referência, bem como regularizar junto a ANS o não reconhecimento do transplante hepático. 

Algumas questões ainda geram dúvidas sobre doação e transplante de órgãos. Saiba o que é mito e o que é verdade:

A doação pode beneficiar muitas pessoas. VERDADE. Um único doador pode beneficiar até 10 pessoas.

Quase todos os órgãos podem ser doados. VERDADE. Os órgãos e tecidos que podem ser doados são: coração, rins, pulmão, fígado, pâncreas, intestinos, pele, ossos, córneas e válvulas cardíacas, cartilagem e medula óssea.

Não é necessário deixar um documento registrado para ser doador. VERDADE. Também não precisa constar na cédula de Identidade. O que precisa é expressar esse desejo para a família.

A família do doador tem que pagar os custos da doação. MITO. A família não tem custo algum, assim como também não tem ganho financeiro.

Pessoas com histórico de doença ou idosos em idade avançada não podem ser doadores. MITO. Qualquer pessoa pode ser um potencial doador de órgãos. Na ocasião da morte uma equipe médica faz uma avaliação do histórico médico do doador e seus órgãos.

A fila de espera prioriza pessoas com melhores condições financeiras. MITO. Todos os cidadãos brasileiros são incluídos na lista dos transplantes, independente da condição financeira ou classe social. O que determina o transplante é a compatibilidade entre o candidato e os órgãos do doador.

A morte encefálica pode ser confundida com coma. MITO. A declaração de ME é atestada por dois médicos diferentes, seguindo os critérios do CRM.

É possível ser doador vivo. VERDADE. Para a doação de rim, parte do fígado e da medula óssea.