Janeiro Roxo: da lepra a hanseníase - conheça a doença que ainda assusta os brasileiros
Além do Janeiro Branco, o primeiro mês do ano também abriga a campanha do Janeiro Roxo, responsável por mobilizar a população no combate contra a hanseníase. Conhecida antigamente como lepra, trata-se de uma doença crônica e infecciosa, causada pela bactéria Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, identificada em 1873 pelo cientista Armauer Hansen.
Atualmente, mais de 90% da população mundial possui imunidade natural contra a doença, que já foi erradicada em quase o mundo. Contudo, o Brasil ainda ocupa a segunda posição no ranking de países que ainda registram casos da enfermidade, perdendo apenas para a Índia. De acordo com informações da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), na Bahia, entre 2008 e 2018, foram notificados 27.311 casos, 1.997 deles apenas no ano passado. Encarada como um problema de saúde pública, seu programa de eliminação está entre as ações prioritárias do Ministério de Saúde.
O médico clínico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Afonso Batista explica que a hanseníase é uma doença neurodermatológica, pois além de afetar a pele, compromete o sistema neurológico do paciente. Diferente de outras enfermidades dermatológicas, como melasma ou câncer de pele, as placas, manchas ou nódulos causados pela hanseníase não apresentam sensibilidade, sendo este o primeiro fator de identificação da enfermidade.
A hanseníase pode ser classificada em dois estágios:
• Paucibacilar: estágio inicial da doença, com uma a cinco manchas no corpo, podendo comprometer um nervo da região.
• Multibacilar: mais de cinco manchas no corpo e mais de dois nervos comprometidos. No caso mais grave deste estágio, ocorrem deformidades e dificuldade de se identificar a região saudável da pele com a danificada.
Transmissão e tratamento
A transmissão da hanseníase acontece através de vias aéreas, principalmente no contato com a saliva ou espirros de alguém infectado na fase multibacilar ainda sem tratamento. Quando a pessoa é contaminada, a bactéria se aloja nos nervos periféricos do corpo, próximos à pele, e pode ficar ali durante anos sem apresentar sintomas.
Segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Devas) da Bahia, o tratamento é realizado por meio da associação dos medicamentos, fornecidos gratuitamente em qualquer unidade de saúde do estado, é eficaz e leva à cura. A duração pode variar de seis meses, nas formas paucibacilar, a um ano, quando multibacilar. Após à primeira dose da medicação não há mais risco de transmissão.
Prevenir e não remediar
Se não for tratada precocemente, a hanseníase pode se tornar grave e gerar deformidades físicas em função do comprometimento dos nervos, principalmente das mãos, pés e face.
O preconceito, a probreza, baixa escolaridade e falta de condições básicas de saúde contribuem podem explicar porquê o Brasil ainda registra casos da doença.
De acordo com Dr. Afonso, a melhor forma de se prevenir contra a hanseníase é afastar o preconceito, e ficar atento a todos os sintomas e não deixar de fazer os exames anuais. “O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são de extrema importância para evitar esta doença e conseguirmos elevar o Brasil à condição de país livre da hanseníase”, finaliza o clínico.