Novidade no tratamento para Alzheimer

Embora promissor, há limitações clínicas e o tratamento beneficia apenas as fases iniciais da doença

 

Após 18 anos sem avanços na área de tratamento, a doença de Alzheimer (DA) finalmente teve um novo remédio aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos Estados Unidos. O aducanumabe, desenvolvido pelas farmacêuticas Biogen e Eisai, foi liberado por lá no início de junho. Porém, a notícia não foi recebida com celebração de forma unânime.

Para o neurologista Thiago Fukuda, professor da UNEB (Universidade do Estado da Bahia) e coordenador médico do CEDONI (Centro de Esclerose Múltipla e Doenças Neuroimunológicas do Hospital Santa Izabel), o aducanumabe é um protótipo importante de um primeiro tratamento imunobiológico para a DA, no entanto, o efeito da terapia não é de cura, mas de retardar a progressão. “O tratamento não tem efeito em fases moderadas ou avançadas da doença. Foi demonstrado benefício apenas em pacientes em fases iniciais, com leve demência e leve transtorno cognitivo. Apesar de ser um tratamento muito promissor, os trabalhos ainda são iniciais”, explica

Opinião também compartilhada pelo neurologista e professor da UFBA (Universidade Federal do Estado da Bahia), Dr. Jamary Oliveira Filho. “Foram recrutados apenas pacientes nos estágios iniciais da doença, quando há uma dificuldade maior em estabelecer se os sintomas são decorrentes do envelhecimento normal ou da DA”. O neurologista chama a atenção também para as diversas limitações para implementação da medicação na prática clínica.  

Ele explica que, para aumentar a especificidade do diagnóstico, os autores usaram um estudo de tomografia por emissão de pósitrons (PET) com marcadores para as proteínas tau e beta-amilóide.  Porém, embora esses aparelhos de PET existam no Brasil, os marcadores não estão disponíveis em nenhum centro médico no país, e, na verdade, em poucos locais do mundo fora de centros de pesquisa. “Esse tipo de investigação é importante, porque os estudos prévios de anticorpo anti beta-amilóide podem ter falhado justamente por terem usado critérios de inclusão menos específicos para a DA. Ou seja, seria um investimento em uma medicação de custo elevado e sem benefício coletivo”, explica Dr. Jamary. 

 

Indicativo para cura

Mas Dr. Jamary concorda que o remédio pode, sim, ser indicativo para a busca da cura, como um primeiro passo de uma linha de tratamento que pode ser eficaz para bloquear a progressão da doença.  “Atualmente, outros compostos anti-beta-amilóide e anti-proteina tau estão em fase de teste.  Um estudo positivo como esse estimula toda uma área do conhecimento a buscar soluções de forma mais acelerada”.

Dr. Fukuda destaca que um outro aspecto importante na possibilidade dessa descoberta, com efeitos positivos, é que abre portas para inclusão dessa modalidade terapêutica em um amplo campo das doenças neurodegenerativas. “As terapias imunobiológicas têm revolucionado o tratamento de muitas doenças na neurologia, como a esclerose múltipla e a enxaqueca, mas também já é uma realidade na oncologia, reumatologia, dermatologia, dentre outras patologias”.

 

 

Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade avançada. A causa é desconhecida, mas acredita-se que seja genético.

Sintomas:

• Falta de memória para acontecimentos recentes
• Repetição da mesma pergunta várias vezes
• Dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos
• Incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas
• Dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos
• Dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais
• Irritabilidade, desconfiança injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento


Estágios

A doença costuma evoluir de forma lenta. A partir do diagnóstico, a sobrevida média oscila entre 8 e 10 anos. O quadro clínico costuma ser dividido em quatro estágios:

• Estágio 1 (forma inicial): alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais.

• Estágio 2 (forma moderada): dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia.

• Estágio 3 (forma grave): resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva.

• Estágio 4 (terminal): restrição ao leito. Mutismo. Dor ao engolir. Infecções intercorrentes.

 

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