Conheça a sífilis: Infecção Sexualmente Transmissível que mais contamina no mundo

Primeiro vem uma ferida ‘inocente’ na região genital masculina ou feminina, geralmente mais aparente no pênis do que na vagina. Às vezes, também pode aparecer na boca ou no ânus. “É apenas uma ferida, vai sarar logo”, e é ignorada. De fato, a ferida pode sumir, mas vai reaparecer, em poucos ou muitos anos. Neste momento, ela não vem só como um machucado, e sim como lesão nos ossos, cérebro ou coração, podendo levar à morte. Assim atua a sífilis, Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que mais contamina pessoas no mundo, chegando a mais de 12 milhões de novos casos por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Em Salvador, somente em 2017, foram registrados 3.474 casos, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

A doença é causada pela bactéria Treponema pallidum e transmitida através de relação sexual desprotegida (sem preservativo) com uma pessoa infectada, ou para a criança durante a gestação ou parto. Segundo Sofia Campos, sanitarista e diretora de Vigilância à Saúde/Setor de Acompanhamento e Monitoramento das Infecções Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais de Salvador, a sífilis pode apresentar várias manifestações clínicas e diferentes estágios, caracterizando-se como primária, secundária, latente e terciária. Nas duas primeiras, a possibilidade de transmissão é maior.

Estágios

• Primária - Aparece como uma ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 a 90 dias após o contágio. Essa lesão é rica em bactérias. Neste estágio, o infectado não costuma sentir dor, coceira e ardência, podendo estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha.

• Secundária - Nesta etapa os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial. Pode aparecer manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés, além de febre, mal-estar, dor de cabeça, ínguas pelo corpo.

• Latente – fase assintomática - Nesta fase não aparecem sinais ou sintomas. É dividida em sífilis latente recente (menos de dois anos de infecção) e sífilis latente tardia (mais de dois anos de infecção).

• Terciária - Etapa mais grave da enfermidade, podendo surgir de dois a 40 anos depois do início da infecção. Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

“Alguns estudos indicam que a sífilis é uma doença milenar, uma das mais antigas existentes hoje em dia e possui um enorme desafio referente à sua eliminação. A enfermidade está presente em todos os continentes, com maior índice de contaminação na África”, destaca a sanitarista.

 

Diagnóstico

 

Ao aparecer qualquer ferida nas áreas citadas, a infectologista Miralba Freire, diretora do Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap), recomenda imediatamente fazer o Teste Rápido (TR), oferecido gratuitamente em qualquer posto de saúde, Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou Unidade de Saúde Familiar. O resultado sai em até 30 minutos e caso dê positivo, o paciente é encaminhado para fazer um exame laboratorial para confirmar a infecção.

“Isso acontece porque existe algo que chamamos de cicatriz sorológica. Uma pessoa que já teve sífilis antes e tratou mantém uma ‘marca’ no sangue, indicando que um dia já teve a doença. Esta 'cicatriz' pode aparecer como positiva no TR, mas não quer dizer que a pessoa ainda tenha a doença. Por isso a necessidade de um novo teste, que oferece resultado mais preciso”, explica a infectologista.

 

Prevenção e tratamento

De acordo com Sofia Campos, o método mais seguro de prevenir a sífilis é o uso da camisinha - feminina ou masculina - em todas as relações sexuais. Diferente da Aids, a sífilis é uma IST curável e, com os avanços das tecnologias de diagnóstico e farmacêuticas, está cada vez mais fácil tratar uma pessoa infectada.

Todo tratamento é feito com aplicações de penicilina benzatina, popularmente conhecida como benzetacil. “O medicamento pode ser aplicado gratuitamente em qualquer unidade básica de saúde. A dosagem depende muito da fase da doença, sendo assim, o tratamento pode levar de uma a três semanas aplicando o medicamento”, aponta a sanitarista.

 

Gravidez

 

Segundo a OMS, ocorrem cerca de 300 mil mortes fetais anuais por conta da sífilis. Sofia Campos explica que o número é muito alto e, por conta disso, é de extrema importância que mulheres que pretendem engravidar façam o exame para detectar a doença. O exame também é recomendado durante o pré natal - no primeiro e terceiro trimestre da gravidez -, além do momento do parto.

“Uma criança que nasce com sífilis pode apresentar diversos problemas de saúde com o decorrer dos anos. Ela pode causar má formação do feto, levando-o à surdez, cegueira, deficiência mental e/ou morte ao nascer”, explica a especialista.

Assim que a sífilis for identificada, o tratamento com penicilina benzantina deve ser iniciado imediatamente - tanto na mulher, quanto no seu companheiro -, podendo ser realizado até 30 dias antes do parto. Caso a criança nasça com a enfermidade, o tratamento será executado com penicilina cristalina.

“Não há outra alternativa. Pelo bem da sua saúde e do próximo, o necessário é usar sempre camisinha e fazer pelo menos o Teste Rápido todos os anos. Assim podemos garantir o bem-estar maior”, finaliza Sofia.