Depressão: entenda os primeiros sinais e busque tratamento logo
Perceber os primeiros sinais, os sintomas preocupantes e buscar o diagnóstico é fundamental para minimizar os danos do avanço da depressão
De tempos em tempos todo mundo pode se sentir triste, a ponto de ficar deprimido, e isso é normal. A tristeza faz parte da vida e, dizem os especialistas, passar por isso é importante para o desenvolvimento emocional.
Entretanto, quando essa tristeza demora a passar e vem acompanhado de outros sentimentos de dor que se instalam por tempo demais, é sinal de que alguma coisa não está bem e é preciso buscar um diagnóstico para prevenir que a depressão se instale e se torne impactante a ponto de interferir no dia a dia e na a qualidade de vida. “Atualmente, é comum observarmos pacientes gravemente deprimidos, muitas vezes sob risco de tirar a própria vida. E isso tem correlação com a demora em perceber os sinais, buscar ajuda e iniciar o tratamento”, revela o psiquiatra e psicogeriatra Lucas Alves Pereira, presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia.
Ele explica que o estado depressivo passa por fases e depressões leves podem se agravar com o tempo sem o devido diagnóstico e tratamento. A depressão diminui a expectativa de vida em até 10 anos e 97% das pessoas gravemente depressivas que tiram a própria vida já tinham algum transtorno mental, e 1/3 delas tinham depressão. Ou seja, prevenir é possível. “Quanto mais se demora a buscar ajuda e tratamento, mais risco corre de se encaminhar para desfechos trágicos. O tratamento é imprescindível, seja para uma depressão leve, moderada ou grave”, alerta o psiquiatra.
De acordo com o médico, após o primeiro episódio depressivo há um risco de 40% a 60% de recidiva, e o tratamento pode modificar esse cenário, melhorando, assim, a qualidade de vida da pessoa, inclusive para evitar um desfecho trágico, que pode acontecer em casos de grave adoecimento depressivo.
O psiquiatra explica que nos casos leves, a psicoterapia e a atividade física podem ser suficientes, não precisando, necessariamente, fazer uso de medicações. Nos casos moderados a graves, os medicamentos são necessários e, na maioria dos casos, atenua consideravelmente o sofrimento e diminui o tempo de doença ativa. Mas, mesmo com medicamento, é recomendado fazer psicoterapia para tornar o tratamento ainda mais efetivo. “E existe, também, o tratamento de manutenção, onde o individuo deverá usar a medicação para não apresentar novo episódio de depressão”, orienta Dr. Lucas.
Os sinais
É muito importante ficar atentos aos sinais, não apenas em nós mesmo, mas também de quem estamos próximos, aquelas pessoas com as quais temos contato diariamente ou com frequência, como familiares, amigos, colegas de trabalho. Nem sempre a pessoa percebe que está depressiva. “A capacidade de interpretar alguns fatos e circunstâncias fica prejudicado pela própria depressão”, explica o psiquiatra.
Além da baixa autoestima, alguns sintomas são característicos de um estado depressivo, principalmente se já estiverem ocorrendo há, pelo menos, duas semanas. Os mais comuns são:
• Humor deprimido, que é diferente de tristeza. Se caracteriza por um sentimento de tristeza desproporcional aos estímulos vivenciados na maior parte do dia;
• Dificuldade ou incapacidade de sentir prazer com circunstâncias que anteriormente eram prazerosas. Isso impacta muito na vida pessoal, acadêmica e profissional. O apetite sexual, por exemplo, pode tornar-se mínimo ou inexistente e, muitas vezes, a pessoa passa a não querer realizar atividades de lazer ou simplesmente não tem forças para tal;
• Fadiga desproporcional e sentimento de que não faz nada útil - fazem com que uma simples tarefa diária seja de muito esforço. A pessoa, muitas vezes, não vai ter a energia nem a vontade de fazer algo, nem o que já fazia e nem novas tarefas.
• Também pode ocorrer perda de peso ou ganho de peso
• Insônia;
• Pensamentos frequentes sobre a morte e o morrer.
Fator genético
Existem algumas circunstâncias que podem ser considerados como fatores de risco para o desenvolvimento da depressão, como traumas marcantes, principalmente os ocorridos na infância, ou se forem muito recentes e a pessoa não tiver tido tempo de processar tudo que aconteceu, além de doenças crônicas que, inclusive, podem ser a causa e a consequência da depressão.
Mas outro fator determinante é a predisposição genética. Já foi comprovado que a depressão é influenciada por fatores genéticos, principalmente de ligação direta, de pai e mãe. Dr. Lucas esclarece que, embora esse fator, sozinho, não determine que a pessoa desenvolverá depressão, nesses casos, as chances de adoecimento são maiores, principalmente quando associado a outros fatores, como alcoolismo, dependência de drogas, e outros transtornos mentais, como ansiedade, transtornos obsessivo-compulsivo e transtornos de personalidade.
Fatores estressores
O psiquiatra explica que a depressão tem origem multifatorial, por isso, eventos e acontecimentos podem, sim, gerar um grande estresse que é possível de desencadear a depressão se o indivíduo já tiver com instabilidade emocional e predisposição genética.
Por exemplo, a solidão. Passar muito tempo longe da família e dos amigos, ou mesmo ter cortado relações de forma não amigável, são situações que podem influenciar no desenvolvimento da depressão. “Mas a resiliência de cada individuo, bem como seu repertório psicológico, podem ajudá-lo a não desenvolver depressão quando submetido a eventos estressores”, ressalta o psiquiatra. Vale lembrar que a depressão é a principal causa de incapacidade no mundo, segundo a OMS, e está associada ao aumento da mortalidade, além de sofrimento para os pacientes e familiares.
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