Dicas de convivência com idosos: diálogo, respeito e apoio emocional

Cuidar não é só “tomar conta”. É preciso manter o diálogo com o idoso, respeitar seus desejos e autonomia, e entender sua rotina e seus hábitos

 

Muita gente encara a convivência com idosos como algo complicado, muito delicado, que exige paciência e  dedicação. Mas se engana quem pensa que essa convivência não pode ser prazerosa e benéfica, com ganhos para todos. Claro que conviver com idosos requer um pouco de jogo de cintura, mas é preciso, acima de qualquer coisa, conhecer e respeitar sua história e, principalmente, respeitar e entender suas vontades e necessidades.

Necessidades essas que nem sempre podemos concordar, mas temos que procurar entender e, se de fato, for algo que coloque em risco a saúde ou a integridade física e mental dele, aí é só sentar e conversar de forma sincera, objetiva e respeitosa. “Na minha experiência como geriatra uma das coisas que mais vejo é a família, na maioria das vezes os filhos, invadirem a privacidade do idoso e modificar sua rotina sem perguntar o que ele precisa. É como se os filhos soubessem mais sobre a vida deles do que eles mesmos. Isso retira da pessoa sua autonomia e sua individualidade", revela o médico geriatra Leonardo Salgado, diretor presidente da Assiste Vida, empresa baiana especializada home care.

 

Diálogo, respeito e estímulo

O médico alerta que o diálogo sempre foi a melhor forma de convivência, e com os idosos não é diferente. Aliás, é fundamental. “Diálogo e negociação são as soluções para trazer segurança sem retirar a autonomia do idoso. E não pense que todo idoso é igual. Cada pessoa idosa, como em qualquer outra fase da vida, é um indivíduo único. E para se relacionar bem com ele é importante conhecer e respeitar sua história e sua vontade”.

 

• Não tratar o idoso como uma criança

• Respeitar suas escolhas

• Tratar das suas necessidades com afeto e respeito

• Não provocar isolamento social

• Permitir que ele tenha uma rede de relacionamentos que o ampare e o faça sentir útil à comunidade

• Estimular atividade física regular e uma alimentação saudável

• Estimular a interação com outras pessoas e atividades intelectuais

• Deixar ele fazer suas escolhas e se colocar à disposição para ajudá-lo quando ele achar necessário

 

Rotina, privacidade, e saber como falar/negociar

Antes de invadir a rotina de uma pessoa idosa e implementar mudanças, mesmo com a melhor das intensões, é preciso ouvir e conhecer seus hábitos. Por outro lado, alguns idosos não conseguem reconhecer os limites que seu corpo está trazendo e muitas vezes se expõem a riscos desnecessários negando que precisam de ajuda.

Por exemplo:  quando o idoso insiste em dirigir mas não é mais capaz de realizar essa tarefa com segurança. O diálogo, nesses casos, precisa ser de negociação para não impor ou determinar de forma arbitrária. Algo nesse tom: “Você não precisa ficar sem sair de casa, mas já percebeu que é muito mais barato e prático pedir um carro por aplicativo do que manter um automóvel para pouco uso? Ou “Você não está proibido de sair sozinho, mas sair com um acompanhante pode ser muito mais agradável, além de mais seguro”.

 

Atividade física

 

 

O geriatra reforça que quanto mais os músculos são utilizados, mais eles se desenvolvem, por isso manter atividade física diária é uma das melhores ações para se envelhecer com saúde e preservar a independência funcional. “Uma caminhada diária em uma pessoa de 70 anos é o fator mais importante para permitir que aos 90 anos ela ainda consiga andar”, alerta Dr. Leonardo.

 

Alimentação: menos foco no que não pode, e mais no que pode

 

 

Claro que muitos dos sintomas que incomodam pacientes idosos tem relação com alguns hábitos alimentares (excesso de sal, de açúcar e de farinha de trigo), mas ainda hoje se dá muita relevância a retirar os alimentos que devem ser evitados e pouca ênfase nos alimentos que devem ser acrescentados.

Dietas restritivas tendem a serem abandonadas pelos idosos ou viram motivo de conflitos familiares. Por exemplo: aquela pessoa que, há 70 anos, todo sábado come feijoada não vai parar porque o médico ou o filho está pedindo. A dica é focar mais na inclusão de alimentos saudáveis (frutas, sementes, verduras, etc) e diminuir o foco das dietas restritivas.

 

Será que ele é mesmo teimoso?

É comum dizer que os idosos são teimosos, mas se você fosse obrigado a fazer algo que não quer, mesmo que digam que isso fará bem à sua saúde, você aceitaria fácil, ou também seria “teimoso”?  Muito da teimosia dos idosos vem da falta de respeito com sua autonomia e individualidade.  A dica para lidar com um “velho teimoso” é conversar com ele, conhecer seu jeito, suas vontades e negociar o que precisa ser feito, e não o tratar como uma criança incapaz de fazer escolhas. “Devemos sempre ouvir e perguntar antes de falar, e negociar antes de impor. A gente se surpreende quando mudamos essa abordagem”, indica o geriatra.

 

Cuidar não é só “tomar conta”

 

 

Quem não gosta de cuidar passa a ser apenas alguém que “toma conta”. O mais importante ao contratar um cuidador para o idoso, é escolher alguém que tenha afinidade pelo cuidar, e não apenas um cuidador "técnico”. É preciso alguém que realmente queira se relacionar com o idoso, conversar, jogar com ele, estimulá-lo e fazer atividades juntos. É importante também que o cuidador conheça a história do idoso, seus gostos, o que é importante para ele, quem são as pessoas importantes para ele, etc.  

 

Convivência com os jovens

 

 

Engana-se quem pensa que idosos não gostam de se relacionar com as gerações mais jovens. De uma maneira geral, essa relação entre gerações é boa para ambos os lados. De acordo com Dr. Leonardo, essa troca de experiências melhora o humor e cria laços importantes. “Não existe receita pronta para essa convivência, mas uma dica é encontrar um elo para que as conversas sejam do interesse dos dois. Tem que encontrar um tema comum, que seja do interesse do jovem e do idoso”.

 

Cuidado e atenção com saúde mental

• Ao contrário do que se pensa, não é normal um idoso começar a apresentar esquecimentos, se tornar repetitivo e apático. Não são condições inerentes ao envelhecimento

• Qualquer mudança no estado de humor que perdure por mais de 30 dias, e qualquer perda de memória que seja progressiva, precisam de uma avaliação profissional pois podem indicar doenças que estão mais presentes à medida que envelhecemos

• Quanto mais exigimos de nosso cérebro melhor ele fica, então é muito importante ter estímulos mentais na velhice para manter um melhor estado mental

• Além disso, a segurança psicológica também é fundamental. Bons relacionamentos, fundamentados em respeito e afeto, tendem a diminuir doenças como depressão, ansiedade e até demências

• Exercícios com tarefas que exijam raciocínio lógico e outras funções mentais são uma boa maneira de se trabalhar a saúde mental

“O nosso cérebro envelhece como todos os outros órgãos, mas tem uma característica semelhante aos músculos: funciona melhor quando é mais utilizado”, alerta Dr. Leonardo.

 

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